por Rafael Belo
Eu nasci
independente. Dizem que logo que o parto aconteceu eu tentei tirar as mãos do
médico de mim e quando me aconchegaram no colo da minha mãe eu segurei com as
duas mãos o seio dela só para ninguém mais encostar em mim. Bom. Não sou mais
uma menininha tola para não entender de exageros... Minha mãe me deu um celular
que não tem nada, só serve para ligação. Vai entender... Diz ela: “preciso
saber onde você está, menina atrevida”. Eu penso que ela fala igualzinho minha
avó... “Você só tem dez anos, mas parece 16”, ela repete. Todos dizem isso...
Queriam que eu fosse modelo pela altura e beleza, claro... Eu só digo: “Eu não,
mãe. Estou bem. Não quero ficar velha...”.
Pensa. Eu
não sou besta, não. Minha infância está muito bem, obrigada. Inteligente
demais? Não sei o significado disso? Alguma associação? Não? Deixa-me correr.
As meninas estão me esperando. Oie. Gente. Demorei nada... Não quero ficar
presa neste troço aí. Rolê? Tô de boa. Vocês podiam olhar para mim. Cara!
Prestenção! Ô menininhas da por..!! Vou embora! Ah, agora vocês me escutam?! Dá
pra gente parar de se comportar como adolescentes? Não, nãonãonãonãonão! Pára!
A gente é... Não vou usar palavra com C que termina com ÇA. Não me sinto assim
mais, mas quero aproveitar este restinho de infância.
Vamos? Vamos
jurar não ficarmos esnobes e oi? Esnobe? É não cumprimentar ninguém, nem falar
com as outras meninas... Ah, que nem as meninas mais velhas nos tratam... Já
viram aquele filme onde as meninas fazer um pacto e tal... Não lembro o nome...
Isso! Esse aí! Vamos ao parquinho? Quero soltar pipa também... Ah, meninas! Por
mim, vai!? Aeeeee! Viu viu viu! Eu disse que a gente ia se divertir, não
disse!? Vamos lá. Tem gangorras para todas nós! Não vamos pagar mico! Oooo! Só
tem a gente aqui... Vamos na piscina de bolinhas? Isso! Pelo escorregador aí a
gente...
Empolgada
demais? Eu! Tô nada! Tô NA-DA!. Não, não! Ninguém é igual a ninguém. Ah, quer
saber? Vocês estão muuuuuiitooo chatas!! Tchauuuu! Parem de vir atrás de mim!
Não vou parar de correr! Eu disse tchaaaaauu! Que droga!! Não vou chorar, não!
Parem com isso! Como eu subi aqui? Quero ficar sozinha!! Não vão deixar?! AimeuDeus!
Só me deixem!! Vocês vão cair da árvore! Não pareço menino, não! Humm! Eu não
vou cantar essa música horrível... Não! Não é minha favorita! Não canteemmm,
por favorr!! Ah, não! Com a dancinha nãooo!! Ei! Por que vocÊs sentaram neste
banco esquisito?! O que vocês estão fofocando aí?! Só me contemmm!! Vocês disseram
“brincar”. Eu ouvi di-re-i-to? Brincar! Eeee! VIVA! Estou descendo...
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