por Rafael
Belo
Eu me sinto sem rosto flutuando. Não é um vazio, um espaço em
branco acima do pescoço. Minha face jamais será uma tela virgem para o outro
pintar. Não ignorem meus traços, minha personalidade se expressa muito bem nas
minhas expressões. Não sei até quando aguento tantas agressões. Mas, se cair –
claro, cairei – vou me levantar com uma nova aprendizagem. Guarde esta
mensagem: não sou sozinha. Podem cortar minha cabeça, pois, tenho todas e ela
não vão voltar a abaixar.
Morro todo dia, mas nunca sozinha. Não sou mártir de nenhum lugar.
Mais um dia para ir lá dançar. Expressar todos os sentimentos e cada centímetro
do meu corpo. Mais uma carta chegando me elogiando, me pendurando como mais uma
peça de carne neste podere açougue coletivo. O texto começa sempre enganoso: “Querida
bailarina Sophie, hoje vi algo diferente naquele seu movimento e desta vez
quase atirei em você. Meu dedo travou...”
É! Eu também tenho um louco mandando mensagens. Mas, este – como vários
– é fruto da nossa sociedade. Ele não me manda mensagens de textos, não faz
ligações, não recebo notificações dele no meu whats. Ele vem pessoalmente me
ameaçar. Eu sinto a presença dele. É assim sua tortura. Ele já matou policiais
antes. Já estive sobre proteção, mas a mentalidade dele está deturpada. É sexual
e eu sou seu brinquedo favorito...
Ele disse já ter morrido outras vezes e eu acredito. Não sei mais
se ele é algo físico, vivo... É mais um fantasma a assombrar, aterrorizando
todos os dias, me aprisionando neste medo irritante... É MAIS UM COVARDE! Também
sou mulher de verdade e danço pela minha vida. Hoje vai ser diferente. Você já
deve ter lido a forma horrível que morri nos jornais. Espero ter dito todo o
horror e opressão sem motivo consumindo minha voz, mastigando meu coração,
dilacerando minha alma, tomando meu sono como o café personalizado deste filho
da ignorância e do machismo (algum nepotismo ou incesto deste)...
Espero ter tido a coragem de revelar esta maldição só por eu ser
Mulher. Protagonista do meu próprio balé, de dizer o que quer... Parei a dança
no meio do ato naquele palco nosso? Gritei toda minha angústia, também sua? Só
não quero saber dos incomodados com nossa luta... Eles têm os problemas deles
para desvendar. Se estiverem a me velar, agora, só leiam esta história que já
deve estar postado no meu perfil, no ar. Obrigada por compartilhar.
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