por Rafael Belo
A infância acaba. É óbvio dizê-lo e até
piegas, mas parece um fim definitivo. Hoje a infância é cheia de regras, cuidados
excessivos, medos extremos, distrações com desenhos, animações, joguinhos e smartphones.
Parece mais uma etapa de preparação apenas. Na idade para o lúdico, para se
machucar, correr, brincar, experimentar já se é preparado para o “futuro promissor”.
Adultos precoces sexualizados e tal. Claro. Sempre existiu, mas a inocência não
permitia ver desta forma escancarada. A repetição e imitação seguem da mesma
forma e não há como proteger contra o mundo. Ele vem e arromba a porta, mas é
preciso proteger o direito à imaginação. Infância é liberdade, é sinceridade,
formação de identidade e carregamos para a vida toda.
Há exceções existentes para confirmar as
regras e os filhos do tempo. Estes são de pais abandonados pelos legisladores
da Constituição se virando como podem para dar educação aos filhos... Há também
aqueles só acumulando filhos por outros motivos. O fato é: os pais não têm mais
tempo e trabalham tanto a ponto de quando podem querem descansar. Sim. De novo.
Há exceções. Todos temos histórias de infância, amizades carregadas para
sempre, da imensidão do mundo... Tão pequeno desde a inserção digital. Eu gostava
de games, de quadrinhos, de livros, mas gostava de correr por aí, subir em
árvores...
Lá vem a nostalgia diriam, porém não. É
apenas um fato pessoal. Não tenho saudades e não me entendam mal. Minha infância
foi maravilhosa. Uni o tecnológico com ao analógico e testava meus limites
sempre. Tinha liberdade e nenhuma obrigação. Minhas festinhas de aniversário
eram cheias de parentes e amiguinhos. Dançávamos A Turma do Chaves, Trem da
Alegria, Balão Mágico, Xuxa... Pronto já sabem minha idade. Chega de rir disso.
Tinha minhas namoradinhas... Mas, era livre para ler, ir às casas dos amigos,
dos primos e brincar com todos os jogos lúdicos feitos nas ruas... Não tinha
preguiça para brincar. Tudo era motivo para “era uma vez”, “sua vez”, “te peguei”
e “agora eu era”...
Quem somos hoje tem base aí na nossa
infância. São os exemplos, a explicação dos porquês os verdadeiros formadores, e
qual é o programa infantil de canal aberto hoje? Sem a presença dos pais ou de
alguém capaz de educar restam os aplicativos de celular, a internet, a
televisão... Qual incentivo tem nossa infância? Qual a motivação nas creches,
nas escolas? Minha infância tem sabor de aprendizagem, de amizade, de
deslumbramento, de quedas de árvores, de carinho e amor. Tive sorte, sei disso.
Trago minha infância comigo. Olhos e ouvidos atentos e curiosos absorvendo
tudo. Ainda sou muita parte infância, esponja do mundo por onde me educo e a educação
está tanto nas ruas, nas escolas quanto em casa. Ela está em todo lugar porque
somos este mar avançando sobre as pedras e as lapidamos para no nosso amanhã
podemos relembrar e sorrir.
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