por Rafael Belo
Sinto-me uma
cidade turística com seus picos de altas temporadas e suas ausências no
restante do ano. Andando pela Rua do Comércio há silêncio, mas é como se cada
pedra deste lugar falasse e eu não escuto. Não sinto nada. Estou bloqueada como
as cantadas insolentes, invasivas e baratas me alcançando diretamente das redes
sociais. Falta vontade e disposição para sentir de verdade. Minha empatia era
extrema e eu a condenei a inatividade. Ela me esgotava. Mal conseguia me ser
quem dirá ser muitas outras... É como se eu fosse uma praia inexplorada e de
repente alguém me divulgasse com patrocínio no Facebook e Instagram. Nunca mais
soube se eram meus sentimentos ou das outras...
Consideraram-me
louca e realmente eu enlouqueci. Se já é difícil lidar com os próprios sentimentos
imagine com uma enxurrada sentimental mundial? Quem pode me entender? Em nenhum
momento da minha vida eu me tive para mim. Era obrigada a ter uma concentração impossível
para descobrir se me pertencia o que sentia ou a outrem. Não descobri antes e
ainda nada sei. Mas, eu não aguentava mais, sabe? Desconhecia a sensação de
sentir sono. Eu sentia angústia, ira, fúria, ódio, dor, sofrimento, alegria,
tristeza, decepção... Esta Era da decepção, da depressão me fez um abismo tão
profundo a ponto de no outro lado ter um buraco negro esperando em looping...
Talvez eu
seja uma mulher vazia hoje, mas já fui A Recebedora. Talvez quando era assim
fosse também cheia de tudo e isso significava ser cheia de nada... Sai vagando
e vi alguém como eu fui. Teria sido eu? Quase cedi a um impulso desconhecido de
acolhê-la e dizer que tudo ficaria bem. Ah, ta! Até parece! Ficaria pior na
medida em que... Ela se contorcia de dor... Eu cheguei a começar a sentí-la,
mas rejeitei de imediato e corri. Sim. Eu corri para longe. Eu estou no fundo
de mim, sei disso, repleta de toda a empatia bloqueada inata em todos nós. Rá! Eu
digo bloquei, mas não é bem assim, sabe? Eu ainda tento não dormir porque não
tenho controle...
Assim,
descontrolada, sinto tudo aquilo guardado no meu eu no fundo de mim... Sonho
com cada pessoa deste meu mundo. Todas têm uma cor diferente referente ao
sentimento delas e, no caso, meu sentimento. Eventualmente eu durmo e irei dormir de novo. Tenho medo. Pode até ser esta minha missão neste mundo: ajudar
quem não consegue lidar consigo mesma sozinha, mas não achei não poder ser
obrigada. Mas, parece ser a única forma de passar, de entender, de continuar...
Quero só andar sem sentir nada além da brisa marítima e meus pés descalços
nestas pedras deslocadas. Porém, eu temo o logo mais e tenho um medo em
particular... Tenho medo de sonhar.
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