por Rafael Belo
Os
tics-tacs pararam sem aviso. Aquele silêncio súbito perturbou o cotidiano plasticamente
repetitivo. Isto quase parou o coração de Alira. Talvez tivesse parado e ela
nem percebeu. Parecia um pesadelo que não conseguimos acordar e de repente
acordarmos sentindo o quarto diminuir, a escuridão nos apertar e esfriar o
quarto quente suado. Os sons se recusavam a ser repetições e, por qualquer razão,
não seguiam... Ela conferiu a televisão, o microondas, o notebook, o celular, o
relógio de pulso, a decoração de parede, mas teve medo de procurar a posição da
lua.
Alira
sentia que tudo recuava, se repetia como lembranças perdidas no Facebook há um
ano, há cincos anos, há décadas, há tempos imemoriais... Era um incômodo parecido com ser observado em
filmes de suspense e terror, era um equivalente a um déjà vu sem fim aliado ao enigma da esfinge sem jamais ser
solucionado, então a alma revivia o castigo de Prometeu. A ironia de uma grande
águia devorar o fígado do titã amarrado a uma rocha pela eternidade que
simplesmente crescia novamente no dia seguinte.
Ela
via sombras dos passos. Eles eram os mesmos, mas... O visual vinha mais
elaborado parecendo simples, mas tinha uma complexidade típica da manipulação,
da ilusão do poder... Alira olhou para a lua. Era a super lua latejando no meio
da noite. Ela sentia aquele pulsar devendo descontrair, porém, apenas contraia
como uma dor que não passa, uma fibromialgia sem tratamento sequer para
amenizar. Aquelas estrelas ofuscadas já inexistente, já mortas, ainda brilhavam
em outros séculos da mesma forma.
Desesperada,
Alira tentou insanamente voltar as horas em tudo que as informava. Como nada
informava o tempo exato mais, não percebeu quanto tempo passava, mas todo o
olhar dirigido a lua só reforçava a loucura dos erros não aprendidos serem
repetitivamente repetidos e a corrupção histórica corromper a memória enquanto
quem despertava desmaiava de exaustão. Alira acordou no silêncio percebeu a
falta de batidas do próprio coração, não estava entendendo... Por que o tempo
não passava? Ainda deitada, respirou fundo e preferiu voltar a dormir.
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