por
Rafael Belo
Não
sei por que achamos estar em algo chamado pós-modernidade se nem terminamos a
modernidade ainda. Pensando bem, vivemos várias versões viciadas do passado
contrariando nossa noção de presente. Estamos presos às nossas próprias
sombras, a ideias que não funcionam mais, as maneiras tão usadas a estarem
gastas, caquéticas repletas de todos os tipos de aranhas tecendo novas teias, ideais
cristalizados entre o tempo dividido em horas afastando a humanidade dos
valores inerentes a nós, chamados humanos, e deixando a razão alucinada ao meio
de tanto disfarce e manipulação entrelinhas de uma nova roupagem de autoridade.
Há
novas maneiras da velha forma de nos enganar, nos fazendo ainda mastigar o
ontem, estamos indigestos de agora há pouco, ruminamos atitudes ultrapassadas e
seguimos filmando o próprio filme da nossa vida em um Além da imaginação, o famoso Twilight
zone criado em uma realidade paralela na qual deveríamos viver, mas
morremos. Morremos cada momento revivido em tensões históricas, morremos a cada
palavra rasgando quem somos, morremos a cada atitude vazia tomada como sicuta
deixando um olhar vazio pendurado no horizonte e um sentimento de falta, de
ausência.
Esta
Era de aparências se expandiu para os três poderes e passou do limite ao chegar
nas mídias digitais. É preciso trabalhar bem a imagem, encaixar bem as
palavras, desenvolver textos e discursos incisivos e emotivos exatamente como
grandes romances premiados encurtando o tempo para ler, apagando a reflexão de
pensamentos profundos para rápidas passadas de olhos... Lemos as primeiras
linhas, os títulos, os resumos e já somos mais um especialista em nada deixando
a vida nos levar, os muros nos dividir e este incômodo nos separar com um ranço
da areia movediça reeditada da Guerra Fria.
Somos
um povo, uma comunidade, não fragmentos de tribos lutando pela mesma causa com
nomes diferentes. Temos de defender uns aos outros, nossos direitos e deveres, não
um poder transitório que a cada um de nós deve responder, ao qual elegemos e
temos sim responsabilidade por ele. Somos os patrões deste lugar no qual
estamos, somos vestígios dos humanos que poderíamos ser, que deveríamos ser...
Não adianta ficarmos indignados, escrever horrores, refletir e não agir. Ficar sentado
reclamando, revoltado com tudo, vestir a rebeldia sem calça e viver de causas
errando os mesmos erros, passando a vida no passado é reforçar esta prisão que
dizemos ser presente e liberdade.
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