segunda-feira, novembro 28, 2016

Frágeis fortalezas



Por Rafael Belo

Amanhecemos levantando muros, tentando criar uma fortaleza por dia para mostrarmos estar bem o tempo todo. Queremos sorrir e mostrar que não importa, que nosso coração pode ser esquartejado e dado de comer aos cães diante de nossas risadas... Queremos ser resistente, resilientes, indiferentes fingindo que nada aconteceu, mas olha só a surpresa: aconteceu. Temos de nos encarar no espelho no fundo de nossos olhos e arrancar nosso mal costurado coração para encará-lo. Precisamos de coragem para enfrentar nosso eu obscuro, nosso erro surrado, espancado pelos nãos, pelas armadilhas e pelas curvas da vida.

Erguemos a cabeça ou a afundamos no chão, tomamos satisfação, tomamos na cara, tomamos vergonha, somos corajosos e destemidos repletos de pontos fortes, mas falar das nossas fraquezas também é necessário porque ninguém sabe mais de nós... Apenas nós mesmos nos conhecemos totalmente e ainda assim nos negamos três vezes antes do galo cantar, ou melhor, antes do celular despertar. Paramos o despertador ou vamos adiando levantar a cada cinco minutos, a cada dez minutos, até ser inevitável sair da cama e termos de levantar para nos juntas aos outros zumbis.

Nada acontece de um dia para o outro, mas temos o péssimo hábito de fingir não ver, de tentar evitar, de achar que vamos mudar com palavras o que ações não fizeram e ainda de última hora, por isso, saímos nos arrastando com o olhar vazio para um ponto qualquer reclamando de sermos donos, de sermos chefes, do chefe, dos colegas de trabalho, dos amigos, da família, dos pais, dos professores, da escola, dos filhos, dos vizinhos, bem... Reclamando da vida e das “injustiças” para continuar agindo da mesma maneira evitando cantar “o que é que eu sou?”, interpretada por Paula Toller e composta por Erasmo Carlos. A música questiona: “o que é que eu sou? Eu vim por quê? Pra onde vou? Onde é que eu tava? Onde é aqui? Quem me mandou? Qual é o nome da minha alma?”


Esta balada intimista termina afirmando que você não sabe, eu também não sei, somos o todo, feitos de nada... Porém, podemos assumir nossas fragilidades e derrubar esta falsa fortaleza comandada por um ditador morto. Assim descobriremos o todo no nada e o nada no todo. Se não o fizermos viveremos presos e acumulando veneno, nos matando lentamente, simplesmente porque estamos engolindo ressentimentos, raivas, momentos e frustrações deixando de resistir e insistir para apenas ir se deixando levar. Oras! Resistir é da nossa natureza, mas precisamos preparar a mente não para ser forte, mas para encarar as fraquezas, se fortalecer nelas e, finalmente, nos sentirmos confiantes e confortáveis com quem somos. Quem é você?

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