quarta-feira, dezembro 13, 2017

Black Feeling Good (miniconto)








Por Rafael Belo

Feeling Good gritava nos meus ouvidos naquela voz inimaginável de Nina Simone, aliás, sou Nina por causa dela. Negra por genética mesmo... Esta música é minha trilha sonora diária e não importa o que aconteça a ouço ainda que esteja de som ambiente de qualquer outra coisa. Nina é minha referência, apesar da insanidade total mortal do alcoolismo... Eu me identifico, às vezes a vontade é entorpecer para sair deste mundo de dor sem cor querendo segregar por cor... Mas, vou em Feeling Good e transporto um sorriso e uma malemolência no balançar da cabeça.

Ela me faz bem. Realmente faz me sentir bem... É meu lugar de paz e poder. Já cansei de fazer necessários escândalos por causa de abusadores e ainda ser recriminada por irmãs e irmãos... Enfim, este mundo é opressivo pra mim e é impossível não pensar em desistir uma hora ou outra. Não há vencedores e perdedores... Somos animais precisando conviver eventualmente e esta tentativa falha de nos diminuir com injúrias raciais e todo este palavreado chulo, tosco, escroto... Ah, eu fico putaça! Tenho direito, mas prefiro o direito de me sentir bem. Não é a vontade global? O mundo não quer se sentir bem?

É preciso diminuir o outro? Humilhar o outro por questões inexistentes? Desconheço este deus diminutivo do eu sou melhor, da segregação, do ódio, do desamor... Estes resquícios rançosos da eugenia são de um absurdo tamanho... Me dá até falta de ar... Vamos lá... Feeling Good... Ajuda-me Nina...! É um mundo racista, preconceituoso e machista repleto de disfarces e desculpas ou... Como se sentir bem fazendo o outro se sentir mal? Como ser humano assim? Resiliência, resistência, força... Desgastam como ossos sendo batidos como baquetas...


Mas, a gente pode se renovar. Você entende? Ninguém pode nos diminuir! Sou tão plural que, às vezes, paro para me encontrar e cada uma de mim sentar para conversar... Uma destas é Nina cantora, engajada, dona dos rolês, apontando o dedo e batendo na cara, mas a outra é o oposto. Ela se encolhe, se retrai quando o racismo a diminuí, quando os abusadores lhe roubam a intimidade, a identidade e ela passa a ser objeto. Eu sou um conflito constante tentando retirar cada esteriótipo equivocado e ainda sim há um buraco negro como uma nuvem negra reforçando tanta escravidão.

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