sexta-feira, dezembro 08, 2017

Até quando eu quiser (miniconto)






por Rafael Belo

Eu não neguei o toque. Não iria resistir mais. Ele me tocou e eu toquei tantas músicas com meu corpo... Um instrumento universal soando, ressoando, cantando pela bateria da pele também percussão, pelas cordas vocais também viola, violoncelo, violino, violão... Pelo piano dedilhado, ah, intenso e delicado. Mais os instrumentos de sopro saindo de brisa para furacão e aí pela contramão... Então, um coro de anjos, o canto divino da falange também se intercalava com uma infernal legião...

Tudo de um contato físico, da pele tocada de todas as formas imaginadas...  Da entrega. Eu estava delivery, self service das sensações proporcionadas pela quebra de barreiras, de fronteiras, de obstáculos, de cálculos lunáticos e defesas pessoais...Tocar com o olhar já não bastava há tanto tempo que quase me perdi na minha própria orquestra em um esquecimento espiritual, sentimental para um domínio carnal totalmente sensorial. Cada poro meu é uma canção.

Quando vem o arrebatamento eu sinto cada músculo do meu corpo e o que esqueço agora é alguma vez ter me negado... Ter negado o toque e o tocar... Espero o som do silêncio e tocada continuo. Chego à liberação de sentimento e aos desbloqueios mentais. Só então, o espiritual extravasa. Avassala qualquer resquício de escravidão acorrentado em mim como uma sombra infinita. Meu silêncio grita e se torna parte da canção. A pausa entre as respirações, entre as notas, a gente se nota e anota mentalmente o calor inicial do contato físico, do toque...


Sinto-me germinal e mais solar que o sol... Sou Gama e todo o sentido emana sobrando sentidos em um explosão corporal de estímulos e ao invés da pele ser a prisão imposta social, é meu portal para ser extensão e parte do todo e toda em parte conectada da distância inexistente da ponta dos dedos até o seu olhar. Resistência agora só contra o negativo. Negação desde já apenas para o que não acrescenta, ao que não quer tocar, sentir e àquele que só quer contato para chamar de contatinho. Mas, só me toque seu eu deixar e aí é até quando eu quiser parar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mas. Só me toque de eu deixar....