por Rafael
Belo
Até há pouco meu estômago estava gelado. Meu
peito vazio e apertado. Uma apreensão inexplicável fazendo minhas mãos
tremerem. Havia insegurança em mim e a culpa não era minha. Eu queria assumir,
mas assumiria o que? Fiz tudo certo, apesar da difamação. Então, larguei mão. Finalmente,
liberei o “cansei de esperar”. O grito de angústia saiu gritado queimando do
fundo da garganta, a cabeça latejou e doeu, mas o começo da liberdade bateu
asas bem no meu rosto.
Quero o que me importa, o útil e o
agradável todos os dias. Esta não vai ser a última caixa que saí, a última
caverna inundada em mim. Veja, estou nesta caixa de grades acusada de um crime
que não cometi. Não vou me entregar. Vou usar cada uma destas caixas onde um dia
me enfiei para subir e respirar esta esperança que deixei lá fora. Cada raio
solar é um verão me aquecendo e se eu mergulhar nas minhas cavernas inundadas
será só uma necessária imersão. Sabe? Aquele momento comigo mesma...
Dói saber tanto, mas é uma dor diferente.
Não me puxa pra baixo nem me empurra para trás. Esta dor me puxa para o alto e
me empurra para frente. Como uma maçã por dia porque dizem ser saudável e
trazer longevidade. O conhecimento trás longevidade? Eu me sinto jovem sempre...
Quer entrar na minha caixa? Faça melhor e me ajude a desconstruí-la. Não me
julgue por ser presidiária. Quantos de vocês estão aprisionados dentro de si
mesmos e por crimes realmentes cometidos por vocês?
Pode ser que eu seja a serpente, esta
tentação que uma mulher pode ser em total sedução. Mas, as minhas escolhas só
eu tomo. Embriago-me delas, as tomo todas sem ressaca. No entanto, ainda há
aquela apreensão no peito, aquele continente Antártico no estômago, mas o
motivo está mudando. Agora estou sozinha na cela e ontem estava em uma
superlotada com menos de 30 centímetros quadrados para existir. Não preciso
decidir entre a solidão e a multidão. Sou ambas e com as duas posso estar. Só preciso
reencontrar meu equilíbrio ou um novo criar. Sou o diário de uma detenta cumprindo
a pena de outra. Se valerá a pena é outra questão. Posso não estar pagando pela
penitência certa, mas estou pagando pelas minhas que só eu sei... Espero
suportar... Ei! Será possível alguém abrir esta caixa para eu sair?
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