terça-feira, dezembro 02, 2014

Verdadeiras portas

Estão bifurcados os caminhos do amanhecer. Vai neblinando a cabeça vestida com outras peles.

Os portões estão apenas encostados separando todo o colorido do porvir,
querendo rasgar as vestes que não nos pertencem, o acontece da realidade e as aparências enganadas se vão.

Pela independência gritada assustando a liberdade para outra personalidade morta de imitação.

Individuais cópias coletivas casuais não possuem sequer dois divididos dedos iguais.

Agem como não agimos, pensam como não pensamos... Ah, nós humanos, ainda com medo dos verdadeiros portais do Amar, vão se recostar no sofá... Até sentir o mundo girar e poder lacrar as portas.

(Rafael Belo, às 07h37, terça-feira, 02 de dezembro de 2014).

segunda-feira, dezembro 01, 2014

Sob a pele do outro – Rafael Belo


Na maior bifurcação do mundo ninguém mais se mexia. Estavam todos parados, mas de repente alguém vindo de outra via cruzava entre as multidões, escolhia o caminho e seguia.  Seguiam muitos atrás apenas pela postura e a confiança nos passos. Parece ser assim hoje em dia, no entanto nada mudou sobre o engano das aparências e delas enganarem.

O respeito desceu para áreas mais ao sul e o norte tem sido solitário e inóspito para quem chega até ele. Há uma tentativa constante de despersonalização da pessoa, disfarçada de independência, liberdade e construção de personalidade. Não é claro que a independência é ter autonomia para fazer o bem entendido por si bancado pelas próprias finanças e liberdade é a ponta do iceberg, um sentimento de uma emoção particular de cada um. Até vir o Titanic diário desafiando tudo e todos garantindo não afundar...

Neste caso do indivíduo, eu vejo cópias coletivas o tempo inteiro... Como um par de asas idênticos de borboletas que pousam e precisam do mesmo impulso e força nas duas asas para voltar a voar. Não são idênticas... Há assimetria em toda parte e em grande parte de nós mesmos.

Afundadas em pensamento e atitudes parecem réplicas de uma programação inserida no nosso cérebro. Um grande ensaio de como viver e morrer. Há um julgamento constante do outro, do próximo sempre baseado em si mesmo e em “exemplos”. Se ele pensa diferente da gente está errado, se ela não faz o que faríamos não está certo...


Não somos ninguém para dizer às pessoas como devem pensar e agir! Não vestimos a pele delas, não estamos sob as situações terminadas, ou terminais, parcialmente responsáveis pelo caminho culminando na forma que a pessoa está. O que sabemos afinal, além de apontar o dedo e criticar?  Não estamos falando de lei, moral ou ética e sim de criar instantâneos anjos e demônios.  Respeitar o direito de todos de ser e estar não é aceitar ou ser conivente é finalmente aprender a Amar.

sexta-feira, novembro 28, 2014

Vontade viva (miniconto) – Rafael Belo



Estava oculto o sujeito em ambos. Entre as coisas e amores. Eles não entendiam quem era ela e quem era ele... Olhavam ao redor sem entender tantas metáforas. Eram folhas verdes, folhas secas, folhas ao vento e folhas em decomposição. Flores inteiras, despetaladas, coloridas, desbotadas, flores vivas em aromas e perfumes de recordações. Eram cheiros corriqueiros de lembranças e devaneios de dois estrangeiros nascidos naquela sociedade de janeiro.

A comunidade era ambos e, apesar do artigo feminino, não tinha sexo definido. Caia nas graças do amor minúsculo com adjetivo maiúsculo, apenas para alimentar a sentimentalização da prisão. Os ocultos cultivavam o vulto da esperança com sorvete de toda espécie e chocolate da desmotivação, mas massas e comidas rápidas também eram bem-vindas, assim como abstinência total de alimentação.

Ele não era ela nem ele. Ela não era ele nem ela. Eram formas definidas alimentadas de dias iguais os esperando diferentes. Eram esquizofrenias da deturpada imaginação da sociedade e da família. Crias criadas para perpetuar. Folhas caídas, flores partidas por falta de adaptação. Não eram pessoas perdidas, apesar das formações machistas e patrimoniais, a vida inteligente aconteceu por lá. Havia conteúdo desenvolvido repleto da palavra proibida: ideais.


Às vezes eram duas dúzias doídas de um casal, outras o própria ideal e um céu azul de poucas nuvens. Não estavam ocultos de fato, o sujeito e a sujeita.  Duas pessoas em liberdade condicional de vidas acumuladas de entulho muito emocional. Só estavam dispostos a lutar quanto a ambivalência do tal “bem e mal”. Não eram reducionistas. São experimentos de si mesmos querendo o próprio melhor. E se isto não é casamento... A lâmpada, a energia, a vontade, a paciência e muita criatividade não são luz.

quinta-feira, novembro 27, 2014

alterados recomeços



o aroma  fica estendido depois do ir das mãos,
o sol é um lampejo tardio
de tantas folhas acumuladas na sensação.

Entre as nuvens acendendo e apagando
esta lâmpada do nosso universo,
As dores fecham os vãos da alma
e acalmam o desequilíbrio,

em alto reverso.
Um autorretrato do ato de oferecer flores ao desconhecido...
E recomeçar um mundo alternativo.


(Rafael Belo, às 07h, quinta-feira, 27 de novembro de 2014).

quarta-feira, novembro 26, 2014

Alamandas (miniconto) – Rafael Belo



Choviam pétalas secas, mas amareladas e o perfume ainda se continha sem careta na discreta aromatização intrincada. Vieram logo após a normal chuva enxovalhada. Por isso, grudavam por toda pele. Ele e ela curtiam sem entender. Eles estavam pelados, um de cada lado, e foi um “achado” serem cobertos pois já passavam frio. Nos sabores do bater do queixo por toda arcada dentária. Eram duas flores.

Amores despetalados, porém inteiros, se revolviam como em braseiros, enquanto os dois não se resolviam se teriam pudores e se esconderiam ou se seriam encontrados naquele desafio com todos os arrepios da água gelada. Nada faltava. Não havia nenhuma queda. Estavam errados nos despudores, mas livres em suas formas singelas. Olharam para cima... Trincadas janelas cobertas de telas repletas das amareladas flores.

Alamandas Amarelas foram tomadas pelo vento em dissabores. Senhores, aliás senhora e senhor de si, eram divisores das próprias águas. Aproveitaram a nudez para se livrarem das mágoas e aquela chuva de vento e flores revelava a primavera toda em um prédio daquela altura. Uma floricultura sem fim. Assim, eles abriram espaço na própria estrada e marcavam fundo seus passos.


Fossem fósseis favoreciam os arqueólogos do futuro a desentender os corações passados com pitadas sugestionadas de dor sem pretender. Nas mãos estendidas bem avisadas um para o outro havia algo indolor. Nada de ferrão de abelha que fica e mata a alheia dona da ferroada em vermelha cor. Mas mais mesmo como a picada da vespa, popular marimbondo, provoca o tombo. Quem é picado levanta, quem pica segue picando assombrando aqueles ainda desaprendidos de cair. Ele e ela, os pelados, querem fazer chover pétalas perfumadas em todo lugar. Vão transformar todo prédio abandonado em uma primavera permanente no ar.

terça-feira, novembro 25, 2014

mãos estendidas

pétalas desbotadas se espalham pelo chão, ventos sopram senis sentimentos amarelos, não se sabe mais sobre ser velho... Houve um tempo onde as cores ultrapassavam a intenção.

Saber selecionar sabedoria em meio a seleção de frases é encontrar certas fases incontáveis  setedecilhões de palavras por segundo no Google, ou traduzir um grito gago de um surdo chinês durante um decisivo gol...

Mãos da insensatez devolvem às arrancadas pétalas de mal e bem-me-quer para acabar com todo triturado talvez e as flores voltam oferecidas sem extensão de dor.


(Rafael Belo, às 07h45, terça-feira, 24 de novembro de 2014).

segunda-feira, novembro 24, 2014

Perdendo a cor – Rafael Belo

Pétalas amarelas são perfeitas até na imperfeição. Juntas formam a flor e o perfume contrastando com o verde como um desmaio de olhos abertos. É um sair de si e ser outra pétala desta mesma primavera neste botão aberto. Sair de si e ser outras possibilidades é se dar a liberdade de imaginar e poder ser todos os seus dons. Perder o tom e desafinar a vida é um caminho a ser percorrido.

Como saber a afinação e o dom sem sabermos a desafinação e aquilo com o qual não temos afinidade? Perdoar-se e o outro pode variar entre o grave e o agudo, mas deixar a ignorância ganhar nuances de drama é perder por desistência ou simples ausência. Não podemos vestir este traje da depressão, vale mais o desapego. Temos de estender a mão e nos despir de preconceitos.

Mas ficar nu e ostentar a magreza com adornos de adoradores do corpo malhado é aquela velha história de chover no molhado, de usar flores para disfarçar o cheiro de decomposição. Talvez da nossa consciência iludida, dos nossos óculos corretores da miopia e do astigmatismo, mas com lentes da fantasia. Usando da brincadeira e da ironia, ou melhor sarcasmo, para humilhar e ofender dizendo com outras palavras o que queria dizer.


Proporcionando dor em si e no próximo é se despetalar, desbotar e acelerar a própria decomposição. Sem cor e sem odor a vida vai ficando sem graça e realmente começa a doer. Não podemos ignorar a dor alheia, mas precisamos acabar com nossa dor, encontrar nossas cores originais e saber mudar de pétala se preciso for. Então, nossas mãos se estendem naturalmente até parar de doer.

sexta-feira, novembro 14, 2014

Tateando a escuridão (miniconto) – Rafael Belo


Com os braços esticados se atirava no impulso do vácuo vacilando passos e mente. Estava toda dormente como se não circulasse sangue mais sob a pele. Sentia-se cinza em um mundo colorido e não, não era destaque... Parecia carregar todos os quilos do planeta e se curvava no que se revelaria um quarto-inteiro de infinitos. Tentou um grito e tudo que conseguiu foi o agito dos pobres lábios e da língua, além de vermelhidão no pescoço e no rosto, devido ao esforço.

Deslizando os dedos pela superfície para decifrar pelo tato é... Era realmente um quarto gelado, morto, suposto... Não era possível identificar. Talvez nem parede fosse porque como poderia se movimentar? Tocou os olhos para se certificar. Estavam lá. Não, não eram dois buracos negros sugando o lugar. Poderia ter voltado no tempo e estar em Além da Imaginação... Teria perdido a visão? Tocou de novo os olhos para saber se estavam abertos ou fechados. Estavam abertos e quase não piscavam. Caiu...

Agachada começava de quatro a caminhar com a cabeça inchada de tanto bater em qualquer objeto que deveria apenas esbarrar. Joelhos e mãos raladas até não mais aguentar, então como um fuzileiro se movimentar. Antebraço, cotovelo, joelho, canela e pé até ser só dedos, palma, punho, antebraço, cotovelo e no fim se contorcer com o peitos e coxas. Um pouco depois do fim, rasteja com movimentos de convulsão, mas pela sensação para onde vão?


Um pouco de força veio como energia e forçou o queixo e o pescoço para frente... De repente... Acordou no meio da noite a pessoa pensando estar acabada, morta, enterrada em seus maus pensamentos. A pessoa estava viva, pelo menos assim imaginava. Outra energia oscilava e revelava a mais escura das madrugadas. A energia faltara agora voltava. Estava cercada de um beco com uma rua sem saída cheia de irregularidades fachadas. Mais a frente outras portas próximas da calçada e muitas distantes. Esteve o tempo todo acordado. A escuridão total é parecida com a morte, mas talvez seja igual.

quinta-feira, novembro 13, 2014

O que fazer?!


a aparência estava à beira da morte,
morreu na ignorância resort
cheias de gatos de luz, sua iluminação roubada
era para um morto ambulante espalhando pus

nada tinha a ver com azar ou sorte,
voar fora da asa alheia “não que importe”
é nunca sair da gaiola nem com a mente
sem ser forte nem na palavra, encravada, indigente itinerante, arrancando devagarzinho os braços dos passarinhos
e fingindo saber o que fazer com as asas.

(Rafael Belo, às 07h38, quinta-feira, 13 de novembro de 2014).

quarta-feira, novembro 12, 2014

Morreu a morte (miniconto) – Rafael Belo


Ele chegou no fim da rua e olhou para o céu, nenhum terminava ali, ambos continuavam. O horizonte é infinito e, por enquanto, não há nada mais longo. Ele pensava, então, se seu fim não era uma vírgula, uma pausa para respiração... Teve medo de ser apenas o suspense das reticências, algo vago e assustador por si só. Tocou-se como quem procura dinheiro perdido e constatou estar mesmo ali. Teria morrido, ou melhor, sobrevivido?

Pensando bem ele sempre foi bem morto. Arrastava-se pelas sombras, mancava calado, era uma poesia desgastada com rima forçada e olhar para fora... Ora, quando olhou para dentro se acendeu. Via prova que para sair é preciso primeiro entrar. Mas, bem naquela hora acontecia uma clandestina desova. Alguém dera em um cavalo uma sova e o jogava bem nele. Ele temia a morte e agora a via.

Havia uma glória retórica introdutória e ele apagou... Como uma fraca chama na tempestade de vento. Não acompanhou a visão e nem lembrou, se assustou quando acordou e ainda naquele primeiro parágrafo persistia no tema dilema: sobrevivência ou morte? Testou sua respiração. Ele não sabia se precisava nascer ou de ressuscitação. Prendeu-se a um verso secreto entoado em sua Alma.

Com calma levantou. Ele não havia morrido porque para morrer basta estar vivo e ele tinha certeza de não ter vivido ainda. Como queria a ida para a eternidade, precisou ficar à vontade, pois na leviandade praticada não era nem zumbi quanto menos nada. Precisava pegar palavras e tentar significar seu sangue. Este precisava derramar sem intenção de salvar ou condenar. Foi para a esquina anunciar em cartaz com sua escrita em sangue: Está morta a morte, morra e viverá.

terça-feira, novembro 11, 2014

para quem não sabe


se o poeta não sorri, não revela rima,
sua sina o prendeu na gaiola e jogou a porta fora,
não há como sair, poeta sem poesia não há de existir

engaiolado talvez partir, já que seus versos não estão mais por aí
e os que foram já não o são mais, se foram sua língua e suas mãos
sua imaginação definha, quem sabe imagina a si mesma livre do corpo, liberta da mente, no absurdo desta gente
não saber que a morte é parente, íntima de todos
e a carne é ínfima... Diante do tamanho da Alma

enquanto os passarinhos passam passinhos para quem não sabe voar.


(Rafael Belo, às 07h31, segunda-feira, 10 de novembro de 2014).

segunda-feira, novembro 10, 2014

Basta viver – Rafael Belo

Há um caminho entre o fim da rua e o fim do céu, pelo menos lá aonde a vista alcança. No horizonte está timbrado nosso caminho e olhar para esta harmonia nos alinha, nos faz olhar de volta para dentro de nós. Como se nós fôssemos o tal abismo tentando encontrar olhares. Esta olhada interna pode ser poesia ou um despertar para a necessidade de rimar o mundo, não com finais iguais, mas com a sonoridade da calma.

Paciência se adquire no caminho antes de chegarmos lá aonde o olhar alcança por que está morto quem vive temendo a morte. Cambaleia feito zumbi quem não compartilha, quem não trilha sem julgar, aqueles que preferem se alimentar de outros cérebros, outras carnes para fingir viver. Não vive quem idolatra tantos falsos ídolos na histeria da deturpação de dons transformando talentos em tormentos e imitação.

Há um enjaulado sofrimento livre em nossas paredes feito de um sangramento coagulado. Nosso sangue derramado em vão é um cortar os pulsos em inconscientes impulsos de um suicídio invisível diante dos olhos de todos. Estamos morrendo despedaçados por nós mesmos e quando choramos são as lágrimas da alma, talvez a única consciente da quantidade de pedaços desfeitos por falta de uso ou abuso da má-utilização.


Porém, por mais que a palavra seja reciclar, descartamos simbologia e produto final para termos o novo seja lá qual for. Morrem as palavras com significação, as esvaziamos e apenas as repetimos sem pensar. Estamos mortos, pois perdidos. Somos mímicos fazendo sombras de outras luzes. Não nos damos ao trabalho de encontrar a poesia da nossa Luz e iluminar, brilhar. O problema não é o medo e sim nossa covardia de acreditar na poesia e de tudo aquilo vindo da Palavra, do Verbo, pois se somos do Verbo, somos rima, versos divinos onde quem morrer vive, basta viver.

domingo, novembro 09, 2014

Assombrando o protagonismo – resenha livro Fantasma

Uma adaptação a toda situação, uma metamorfose ululante pronta para ser o necessário usando o tom certo, as palavras adequadas, os traços precisos e, principalmente, a confiança e a autoridade para convencer até os mais preparados. Mas, seu vício é a adrenalina, o planejamento e o ser capaz de fazer... Não tem fim é sempre ação e aventura. Por isso, é conhecido como Fantasma e assombra que quiser.

Roger Hobbs surpreende em talento e mistério neste livro de ação e acredite: é de estreia. São 320 páginas que grudam na gente e não soltam mais. Várias reviravoltas acontecem com um personagem que não conhecemos e ainda assim é o personagem principal do livro. Em paralelo com o sumiço dos assaltantes e do dinheiro do assalto que ele procura, Fantasma conta outra história...

Com um assalto passado o assombrando no presente e sendo contado, deixa uma luz sobre que é Jack, que deixa claro não ser este seu verdadeiro nome. Afinal, ele é o Fantasma não tem identidade nem digitais, isto não o impede de ser cauteloso e programado para não deixar pista. Não há como não perder o fôlego e lembrar de 24 horas, aliás ele tem apenas 48 horas para realizar seu objetivo e o tempo está passando.

Enfim, qual é o real objetivo de Fantasma? Leia... Ao final você espera que haja mais, que o estreante Roger Hobbs tenha mais fantasmas no armário e em casas abandonadas por aí. É, bem não seria exatamente vilão ou seria? Quantos livros já lemos onde o personagem principal é mais que um anti-herói, Fantasma não se enquadra naquelas linhas fiscalizadoras da lei, mas no tipo de personagem para quem torcemos que dê certo.

quinta-feira, novembro 06, 2014

retomada


um ataque de pânico humilha o ânimo de toda ilha,
desânimos comporta composta de um homem só,
tão sozinho que se atrapalha ao falar consigo,
improviso da solidão, campanha da campainha disparar de antemão,
e ao invés de chamar fazer o alerta,
à alergia alegria a se espalhar e contaminar cada cabaço do arquipélago
com elos que ninguém pode negar,
enquanto o coração treme, geme a pele:
alguém pode tocar. Quem chegar vai repatriar
e forçar a ilha... A ser pessoa e lugar.

(Rafael Belo, às 07h38, quinta-feira, 06 de novembro de 2014).

quarta-feira, novembro 05, 2014

Demais (miniconto) – Rafael Belo

Eles estavam naquele quebra-cabeça, caso alguém esqueça não haviam peças iguais, ademais pessoas também não são, mesmos os menos sãos admitem: nem a relação apaga a personificação de quem seja. Gêmeos, então, procuram mudar a estética, a forma e o conteúdo, sobretudo querem ser diferentes, se destacar no meio da gente, se apelidando de multidão. As peças no fim completam, até à beça...
Umas para encaixar outras de encaixe, mas há quem ache que dois náufragos resgatados de continentes diferentes aceitem ser ilhas neste arquipélago repleto daqueles Estreitos de Bering mesmo se o acompanhamento mental for desigual na hora de comparar as peças, mas só porque não se pode comparar diferentes peças e era isso que eles compartilhavam: este pensamento. Talvez até dividissem os corações trocando um pedaço pelo pedaço do outro.
Bons selvagens quebrados pelos “constrangimentos sociais” revirando Rousseau pelo avesso em digitais, vendo o esforço dos oprimidos reprimidos pelo grito utópico das fronteiras em tópicos criadas na divisão entre escolha e obrigação. Unindo a Pangeia novamente como a Árvore da Vida com tantas raízes inseridas em galhos como pensamentos vagos por toda direção. Eles estão pagos pela própria floração.

Mas às vezes lançam suas redes tentando compreender quando ser social e quando ser individual, os extremos do pessoal e coletivo, são seres subjetivos, eles... O desenvolvimento intelectual foi passando de ano com notas mínimas empurrados para frente como se isto fosse preparo e quando não raro, eles abriam novas vagas e a interpretação ficava no limite. O palpite era sempre algo mais e só de vez em quando era demais...

terça-feira, novembro 04, 2014

Alguém


expandiam os acessórios na euforia dos provisórios,
ilhados nos arquipélagos inglórios, tão compostos de ilha que fingia continente.
Exigente era completo, mas incerto derretia suas calotas itinerantes em um instante eminente.
Quente pela devastação, bolha de calor em ação, eleva as alturas as temperaturas latentes.
Impotentes as praias deixam de ser de repente, também são mar, a salgar um oceano absorvente feito de humanas lágrimas...
Molham todas as páginas, de uma só vez há a palidez e uma estranha maré em armazém, aonde ninguém é todo mundo e todo mundo é alguém.


(Rafael Belo, às 12h32, segunda-feira, 03 de novembro de 2014).

segunda-feira, novembro 03, 2014

Acessórios em expansão – Rafael Belo

Às vezes eu me sinto um náufrago, mas ao invés de ser resgatado de uma ilha me tiraram do continente e me jogaram em um vasto arquipélago. Cada um é uma ilha em seu mundo... Um dia inventaram que ninguém é uma ilha, mas é claro que o pensamento de John Donne é mais profundo. Somos ilhas, organismos distintos e mais... Somos completos sim, porém temos acessórios de expansão.

Somos todo um universo em nós mesmos e tememos nossos limites mesmo desafiando e invadindo os alheios. Somos parte do continente, do todo? Somos!  No entanto, se não exploramos quem somos e quem podemos ser ficaremos uma ilha enquanto também somos O continente e O todo. Por isso, vagar nos arquipélagos com base em calotas polares leva a sermos ilhas itinerantes vagando em um oceano tempestuoso.

Assim extinguimos praias nossas ainda selvagens. Bons selvagens que somos, bem lembrando Rousseau, estamos em nosso estado natural e fingimos estar além dos “constrangimentos sociais” ao brincarmos de sermos democráticos... Seguimos o comportamento padrão nos perdendo em outras ilhas e formando um continente ligado por incontáveis Estreitos de Bering não permitindo que nada derreta esta ligação.


Até percebermos ser ocupação e posse, insistindo no esvaziar do verbo amor, instinto de sobrevivência... Então, saímos ou fingimos não ter esta percepção. Precisamos aceitar nossa condição de ilha e depender, ocupar e possuir apenas nós mesmos. Permitir nossa criança propiciar a si mesma felicidade, pois assim, libertos, vamos sendo continente e todo, nos transformando na verdadeira Pangeia... Por enquanto, todo homem é uma ilha.

sexta-feira, outubro 31, 2014

Aliciadores – Rafael Belo

Monarca, ditador, aristocrata, diplomata, sociopata, psicopata todos exibem uma aura áurea magnética democrata, mas nos atos da cinética se revelam verdadeiros primatas lutando por espaço pela força disfarçada de esperteza lá nos cantos da inteligência há uma essencial cibernética e todos os modos da robótica sob uma ótima sobretudo de um absurdo de provar o sabor. Ela e ele se lambuzava em seu achado.
Cada um de um lado. No controle acima de qualquer coisa como se fosse possível viver sobre uma torre vigiando os passos dos atores sociais até o acumulado ralo dos dissabores entupir e o descontrole submergir até explodir e emergir no meio de um surgir de fatos ligados a um passado não contado, saboreado como a delícia do deslumbramento, desmembramento dissimulado nos pecados escondidos assinado por ele e ela entre as linhas de um papel documentado.
Interligados eles adoeciam a carne, a mente, a alma e os corações carentes ficavam ardentes a um toque da pele. Latentes, eles pulsavam em uma distorcida sintonia sintonizadas, apenas por aqueles dispostos a escutarem esta avenida, esta via de trato empoeirado, varrido para baixo de algo qualquer feito apenas de malmequer sem sequer imaginar outras ruas e becos por qual se pode passar. Ela e ele se envolviam com seus mais sombrios lados.
Médicos e monstros acordados nos becos adormecidos insinuados como profissionais da morte, como demônios mal escondidos no oposto do bem. Ele e ela arriscavam a vida arisca para riscar a morte, consorte deles mesmos. Destruíam as prisões para a liberdade deles imperar na dúvida de quem não quer se culpar e se posicionar. Eles eram a crônica liberdade aguda e mórbida sem ética, sem moral, portanto sem lei, apenas o livre-arbítrio intenso de impor no tenso modo aliciador e cooptar... Qualquer alma do nosso lar.

quinta-feira, outubro 30, 2014

psicopata


algo maior nos arremata, mata nossa vontade acrobata
e os desafios retornam desvios estigmatas
ferindo nossa forma aristocrata
de nos pintarmos democratas
quando nos anunciamos monarcas
só para enfeitar nosso adorno ditador
deixando marcas na grama proibida de ser pisada, estaca

querendo do outro o sentir do nosso sabor
escada da dor de provar estar certo, primata, para o outro mentir nosso incerto, psicopata.

(Rafael Belo, às 06h47, quarta-feira, 29 de outubro de 2014).

quarta-feira, outubro 29, 2014

Medidas de conduta – Rafael Belo


Nossos desafios diário podem estar em algum itinerário da fé ou simplesmente ser o que são. Aprendemos todo dia algo, queiramos ou não e acredite não há como agir da mesma maneira diante de problemas diferentes. Não é possível tratar com o mesmo remédio diversas doenças da alma, da carne, da mente muito menos com as mesmas dosagens. Temos o livre-arbítrio e só lembramos dele quando nos é conveniente porque preferimos nos esgotar em achar a quem culpar.

Culpamos o divino, o sobrenatural, a providência, o parente, o amigo, o colega, o outro...  Nunca a ação é reação dos nossos atos, quem, senão nós, é responsável pelo que fazemos? Respondemos pelos nossos atos a não ser quando somos incapazes ou assim considerados, mesmo omissos temos nossa culpa, mas quando somos coagidos a situação é diferente, porém em um mundo com tanto acesso as mais diversas visões e informações, a maior parte do tempo é questão de preferência.

Preferimos vestir responsabilidades que não nos dizem respeito, despir a humildade ausente em nós e nos diminuir cada vez mais na nossa soberba disfarçada de vítima. Criamos uma fachada tão bonita de nós mesmos que logo falamos de nós mesmos na terceira pessoa do singular. Vivemos procurando desculpas para nossas faltas e nossos exageros e seguimos os mesmos erros esperando, por milagre, ser um acerto da próxima vez.

Deveríamos ser seres evoluindo, mas colocamos nossa própria fé para guerrear com a crença alheia para provar qual é a verdadeira. Está aí nosso problema, queremos estar sempre certos ou provar sempre que o outro está errado... Vivemos feridos, machucados por nos darmos importância ... Demais.  Nesta mania vazia de querer fazer parte de algo maior... Com qual intenção? Brigamos por política, gosto e religião por qual motivo? Imposição e falta de argumentos transformando nossa liberdade em prisão.

sexta-feira, outubro 24, 2014

Retrovisores quebrados (miniconto) – Rafael Belo


A cachorra deles só observava com a humildade de quem sabe o que vê. Sem falar sem latir, impedida de aquilo expelir. Havia uma dor subindo em seu peito, dela não da cadela, e pelo jeito do outro sujeito, ele também a tinha. Nenhum andava na linha ali. Ela não era ele, ele não era ela, eram no máximo estilhaços amargos de uma antiga janela. Ainda desta forma, a “reforma” não impedia... Faltava ar... Era uma ausência de espaço. Corria um abafado mormaço, mas não se admitia o ir e vir percorrer a possibilidade de não existir rancor. 

Sonhador... Sonhadores... ambos olham pelos retrovisores sem querer deixar nada para lá. Deixados para trás, simultaneamente, sorrateiramente destorcem os braços torcidos e todo argumento distorcido é devolvido no momento desenvolvido para patinar, para permanecer sem continuar.  A cachorra deles estava atenta como se tivesse algo a dizer, prestes a contar.

Vai prevalecer um gosto de cru fígado da boca a face, disfarce imposto retroativo cobrando devagar as rugas e o tempo onde a pouco nem o existir existia, aonde a cachorra deles ficava com o olhar fixo esperando para mostrar conhecimento, mas resistia. Um ou outro, à revelia, substituía a brancura do rosto pelo envergonhado corado... Insistia em se pintar além do devia e o fazia.


A cachorra deles só olhava como quem dizia estou com vocês e para não se perder também se doloria, a dor dividia o passado em nostalgia enquanto doía ainda e aquilo subia, porém, se repartia para espalhar. Eles dividiam o peso e tentavam não ter desprezo pelo bocejo que a vida lhes dava. De repente chovia e ambos queriam se molhar. Foram para chuva sem parar. Quebraram os retrovisores, mas sempre havia os defensores do caco ajudando para trás olhar.

quinta-feira, outubro 23, 2014

estrábicos

nega a leva levada amargurada nos lábios,

esporádicos nos beijos do rancor,

maldosos comentários às costas mágicas respostas no desnecessário pudor,

cardápios de preconceitos expostos nos conceitos póstumos do preço tabelado pela dor,

imaginários divisores nas fronteiras do amor, levantados fortificados pelo desamor azedo do verde abacaxi incolor,

piorando a vista extrema de leste a oeste ao mesmo tempo no dissabor, experimentando o aparato rasgados trapos do vestiário da moda do televisor,

galopa toda a visão estrábica míope com astigmatismo latente sem corretiva lente do indicador, bicas retorcidas alusivas aos mitos de algum previsor, de limite palpite requinte daquele solucionador que professa confessa conversa, o verdadeiro Professor.


(Rafael Belo, às 14h37, quinta-feira, 23 de outubro de 2014).

quarta-feira, outubro 22, 2014

E os dois? (miniconto) – Rafael Belo


Mastigar as mais fortes pimentas para provar que aguenta e tentar gritar arrebenta ao estado de estupor pensando dar valor ato agregando coisa nenhuma. Todo o rancor negado, falsamente arquivado no amargor isolado na ponta da língua, solta, louca para encontrar boi na linha liberando fogo pelas ventas feito uma tormenta sem direção e lá eles estão. Ele e ela a subir o tom xingando até quem experimenta jogar terra ou água para apagar, mas o desabafo revoltante é tão picante que nada vai adiantar.

Ela e ele a se esgoelar quebrando vidros e janelas até sangrar. Podem falar sem parar, levantar a placa do juízo final chegando nas esquinas de qualquer lugar, pois perdendo ou ganhando as escolhas erradas os vão matar. Não por serem escolhidas, errar é grande parte da vida, mas por insistir em guardar este estoque de veneno no palavrório verborrágico golpeando sem parar um adversário inexistente porque no mundo só enfrentamos a gente.

Eles eram complementos calados, equivocados ao deixar passar sempre em branco aquele brilho nos olhos se transformou em banto. Reclamações de canto em canto até o olhar ficar fosco. A sessão do dia termina como tudo começado, pode até parecer ensaiado, mas quem vai saber... O importante é entender o recado, diz ela para você, mas é preciso entender diz ele sem se perder. Por quê não fala abertamente claramente seja lá o ser do seu dizer?

A pergunta conjunta saiu moribunda, já caquética. As vozes do casal, antes atléticas, estavam mais para patéticas porque aos gritos ninguém consegue conversar. Escutar, todos escutaram, mudaram o itinerário ou por medo ou pelo ouvido curioso sedentário naquele jeito patente de viver permanente provisório. Complexo do simplório acreditar no adivinhar do outro, óbvio... 

Sim é evidente o satisfatório temor de ser. Devorar-se sem decifrar a esfinge, aquela que finge ser reflexo do espelho, de joelhos a implorar pelo enigma desfeito pelo defeito de guardar o pior e aguardar para espalhar o mesmo. E os dois, sem rancor ou amargura, ficaram assistindo a certa altura, sem ninguém perceber que não estavam mais dentro da reação daquela inventada discussão e foram embora sãos, ao longe.

terça-feira, outubro 21, 2014

Alucinante


folhas são palavras escravas do amargo dos lábios
queimando a língua diluída em pimenta, ninguém aguenta
mordê-la mesmo em pedaços vários,
e sangra rancores em ouvidos desavisados, pavores vagos,
espalhando veneno em um jogo, “autopirofagia” de um fogo-fátuo
alimentado por almas corrompidas, pela própria ida da vida à gosto

descida do oposto de provérbios,
perto da seriedade onde ninguém é sério, além do instante e faz questão aviltante de um óbvio picante refrescando os olhos dos outros.

(Rafael Belo, às 10h42, segunda-feira, 20 de outubro de2014).

segunda-feira, outubro 20, 2014

Incêndio de folhas (miniconto) – Rafael Belo


As palavras atravessadas no cotidiano atravessam diariamente a garganta e ensanguentam os ouvidos profanando as horas sagradas onde se calar era a melhor opção. Mas, não. Há de se desembestar o particular sentimento para o coletivo... O rancor é o amargo da língua queimando este veneno guardado como um prato gelado da pimenta mais ardida do mundo: Trinidad Scorpion Buch T.

Na falação daquele falso perdão dado, daquele ocorrido enganadoramente esquecido, as pessoas oferecem punhos, balas, pedras, lâminas afiadas e o que tiver à mão para bater... Nada de dar a outra face. O comportamento cristão enraizado em todas as legislações do mundo ficou restrito por lá, a reduzidos grupos, aos cultos, missas e a bíblia... Além das aparências e os sussurros quando aparecem as costas.

Rastejam pelo tempo esperando a oportunidade para revidar e continuar a beber do amargo da vingança, sem qualquer esperança de um dia aliviar. Ao avesso, se vê um peso cada vez maior envergar criando corcundas que apertam o peito de um jeito parecido com as reminiscências da morte forjada a todo instante... Ao invés da alegria, a infelicidade e a dor em um apego acorrentado a tudo inválido de pena.


O prazer de divulgar a própria dor mesclada a deduções e especulações mastigando aquele Trinidad Scorpion Buch T. como Trindent mascado, sem saber que para perder o sabor picante desta pimenta é preciso diluí-la 1,1 milhão de vezes em açúcar e água... Ainda assim, a amargura e o rancor serão cuspidos em forma de fogo virulento em seu mundo de florestas secas e total falta d’água.

sexta-feira, outubro 17, 2014

Distração (miniconto) – Rafael Belo


Bastou uma fração de segundo e o fluxo estava obstruído. Carros batidos, corpos estendidos, motos, caminhões, coletivos passivos em largas e estreitas ruas. Ativos na distração. Todos culpados por afetação e indiferença aguda. Afetados pela endemia da pressa, agora não iam a lugar algum. Foram obrigados a parar e bem neste momento não queriam se distrair.

Bastava um minucioso olhar para ver tudo interrompido. Parados gritavam e nem queriam entender. Não queriam estar ali, eram movimentados, quase corredores, queriam chegar. Toda esta vontade conjugada em uma educação inexistente estava passada no passado. Iriam esperar. Como uma reação em cadeia, cada canto da cidade estava sem contorno.

Tão atravancadas as passagens se mostravam. Rua, becos, calçadas, pontes e travessias congestionadas. Não passavam pessoas quem dirá bicicletas. Se os sons grosseiros fossem tirados parecia uma pausa. Estátuas vivas urbanas. Mas o silencioso é precioso demais para as pessoas manterem e se acaso o tivessem não saberiam partilhá-lo, distraídas o engasgariam com qualquer som.


Então, aquela imensa confusão de transportes e gente parecia um leilão absurdo aonde quem entendia menos ganhava mais e podia arrematar uma coisa qualquer pra si. A “paz” virou guerra devido a um indigente, metido a inteligente, ter estacionado seu luxuoso carro atravessado na rua... Simplesmente para conversar com um outro debruçado na janela do motorista. Este não parava de falar, então olhando bem, tinha gente de todo tipo no celular, voltaram a se distrair e a se desculpar... Estava tudo de volta ao mesmo lugar.

quinta-feira, outubro 16, 2014

For


no tropeço esqueço meio 
fim começo, só há recomeço na contínua história do humano texto disfarçando pele em pano e improvisando todo o contextos das coisas factuais nas costuras e fatos tais em um enredo feito de destino e fado no silêncio ralo crescendo na língua como calo em sais, me calo denso penso na distração das digitais e talvez em algo mais, mas são tantos pensamentos fundamentais que os bocais se alargam e perdem toda a raiz, vou longe no voo do horizonte, levando telas de sentinelas levanto todas as janelas e as palavras forma pinturas, estilhaço as alturas em qualquer contenção de espaço, dilato meu tempo e não sou dono de matéria alguma nem pertenço a mim mesmo, convalesço fragmentos e sei quem sou, inteiro, seja o que for.


 (Rafael Belo, às12h09, quinta-feira, 16 de outubro de 2014).

quarta-feira, outubro 15, 2014

Sensação (miniconto) – Rafael Belo


Ia tão distraída a noite que o sono se perdeu entre um vapor e outro no mormaço que preencheu o mundo. Imagina o calor do quarto... Uma sauna noturna sem sol para um casal querendo se Amar, mas o toque era um suor repelido por todos naqueles dias extremos, então era uma atração disposta a se cansar de tanto tentar resfriar aquela gente quente.

Nada de vento, brisa ou sopro, era tudo deserto e deserção. Estava tão quente... Tão quente... A ponto de ele nem ser ele mais. Ela não se continha. Ia e vinha. Se molhava e agoniava. Tão agoniada estava... Secava antes mesmo de se molhar naquela sequidão fazendo evaporar até o que não era água. Animados e inanimados derretiam. Todos sentiam o próprio ar queimar.

Depois de tanto fogo ninguém era quem era mais. Ele acordava de um sonho longo com seus queridos mortos. Ela dormia abraçada ao chão perto o bastante para se tocarem sem suarem. Foram para o ladrilho para aí sim apagarem mesmo ainda em brasas. Nem era dia ainda, mas na medida do possível o ladrilho estava “frio” o suficiente para recuperarem o sono perdido dele. Parentes falecidos o acolheram no sono como premonição.


O presságio o fez parecer gostar de dormir no chão como muitos daqueles que já entre nós não estão. Só assim dormia ultimamente, na verdade, depois de horas tentando na cama frigideira desceu, se ajeitou, apagou...  No “sonho” os falecidos faziam campanha para ele ir embora da cidade assim que possível e comiam os salgados favoritos quando em vida. Acordado ele mantinha a sensação de ser um deles, o pai, até se comportou como tal, depois voltou a dormir finalmente como ele mesmo.

terça-feira, outubro 14, 2014

Sem sinal


distraída distração arrependida
largada gripada sem torcida
entre uma arquibancada cheia de nazistas
e uma celebridade idolatrada desconhecida

a web é tão precoce, tosse insistente fúria da aglomeração
espirros estridentes contaminação

maltratados passos descalços nas pedras
poeira superficial criando um deserto artificial
cobrindo ouvidos e olhos em todas as eras

era quem somos, pequenos deuses sem sinal.


(Rafael Belo, às 15h58, segunda-feira, 13 de outubro de 2014).

segunda-feira, outubro 13, 2014

Pequenos deuses – Rafael Belo


Sempre com um passo atrás e outro adiante ficamos congestionados como uma gripe maltratada retornando a todo momento e de tanta distração procurar, ficamos distraídos e doentes. Hoje somos a distração, somos a própria doença que combatemos constantemente achando sermos a resposta e a termos também, feito oráculos superficiais do tempo.

Proprietários de fragmentos de conhecimentos e informações temos ilusões de grandeza e de fato achamos dominar. Somos farmacêuticos, juízes, intérpretes e jornalistas. Indicamos os “melhores” remédios para qualquer dor, afinal temos todos o mesmo DNA, a mesma genética, enfim cada característica que nos diferencia na verdade não existe. Nos atropelamos nos acontecimentos...

Escorregamos na superficialidade dos fatos sem cronologia, sem antes ou depois... Quem dirá as consequências... E apontamos o dedo, culpamos, esbravejamos condenando seja lá quem for. Costuramos um fato aqui, uma ideia acolá e uma informação mais adiante e pronto temos provas taxativas para tachar qualquer situação, histórico e pessoa. Somos tão autossuficientes. Pequenos deuses...

Nós, então, interpretamos nosso tempo e sempre que o resultado é diferente daquele do qual tínhamos certeza e provas, não era bem assim e ganhamos o Oscar de melhores intérpretes, porque sempre com um passo atrás e outro adiante vivemos no limite da dor da nossa abertura abusando das nossas extensões tecnológicas.

Viramos parasitas delas e elas nossas hospedeiras. Olhamos para frente pela primeira vez e nos chocamos com os Cabisbaixos. Somos um deles. Vivemos na ansiedade dos próximos whattsapp e das próximas postagens. Tão famintos e sedentos a ponto da perda ou esquecimento do celular ser perder a nós mesmos ou basta cair o sinal.