por Rafael Belo
O lamaçal do ranço
das sobras da Guerra Fria ainda me faz pensar não em um mundo múltiplo, mas ainda
em algo polarizado. Ainda somos capitalistas e comunistas, liberais e sociais,
democráticos e autoritários, egoístas e... Bem, estamos aqui cheios de etiquetas
e marcas, tecnologia e distanciamento de profundidade... Basta ver que Dante
Alighieri estava certo: “Os lugares mais sombrios do inferno estão reservado
para aqueles que foram neutros em tempo de crise moral”.
A moral atual é
sobreviver e somos obrigados a escolher um lado para mesmo assim continuar em
crise moral. É o inferno onde estamos do nosso lado constantemente porque não
há lados. Há a necessidade de analisar todos os fatos possíveis para tentarmos
entender a moral da história e o problema mora justamente aí: na História. Se vamos
falar de lados opostos, mas que não deveriam se opor bem-vindo à França. Hoje,
o país possui dois partidos: do movimento e da ordem.
Obviamente diríamos que ordem é
direita e movimento é esquerda. Na concepção engessada intolerante atual – ou seria
a de sempre? – haveria opiniões de direita e esquerda se sobrepondo, substituindo,
aniquilando a visão de certo e errado. Você escolhe um lado e o outro é o
inimigo. Na Revolução Francesa em 1789, os membros da Assembleia Nacional, se
dividiam entre quem concordava com o imperador Napoleão Bonaparte e quem
discordava. Os à favor do rei sentavam à direta e os simpatizantes a revolução
à esquerda. Os supostos de direita não queriam a disposição das cadeiras porque
acreditavam sim no apoio a interesses particulares ou gerais pelos deputados,
mas não em facções e partidos políticos.
Passados dois anos a Assembleia
Nacional foi substituída pela Assembleia Legislativa totalmente renovada, mas
as divisões continuavam com “inovadores à esquerda”, “moderados” ao centro e “defensores
da consciência da Constituição” à direta. Mais dois anos se passaram e um golpe
de Estado mudou a dança das cadeiras. Ninguém sentava mais do lado direito
porque os Girondinos estavam presos e quem sobrou foi para o centro. Um ano depois,
no 9 do Termidor, marcado pelo fim do regime do Terror onde o próprio
Robiespierre e seus seguidores foram decapitados como fizeram com o Rei Luís XVI,
a extrema esquerda foi totalmente excluída e o método das cadeiras também foi
definitivamente encerrado.
Robiespierre foi o último de cerca
de 40 mil pessoas vítimas deste regime, literalmente eles perderam a cabeça, a
ideologia original foi distorcida. Em 1814-1815, o “definitivamente” perdeu o
sentido. Mas até antes de 1871, início da Terceira República, nunca havia sido
usado para definir ideologias, eram a localização das cadeiras do Legislativo. Com
a nova República, os partidos passaram a adotar os termos e no século XX, os
termos Direita e Esquerda passaram a representar ideologias específicas. Em 1914,
os partidos chamados de esquerda se sentavam à direita. Marx diz em seu Manifesto do Partido Comunista:
"classe média - pequenos
comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos,
camponeses - combatem a burguesia porque esta compromete sua existência como
classes médias. Não são, pois, revolucionárias, mas conservadoras; mais ainda,
reacionárias, pois pretendem fazer girar para trás a roda da história." Para girar
para trás é preciso seguir em frente e faz tempo que pegadas solitárias brilham
adiante como um visão do horizonte onde estamos parados no inferno criado por
nós.
3 comentários:
Esse período que estamos vivendo é beeeeem doloroso. É urgente que tomemos posição sobre os acontecimentos, mas percebo cada vez mais pessoas fazendo isso sem o menor equilíbrio, o que é muito perigoso.
é perigosíssimo não conhecer nossa história, insistir nos erros e ser erro. obrigado por comentar Jan Ribeiro
Muito importante esse texto,nos faz refletir em mudanças....mudar é preciso!
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