segunda-feira, dezembro 11, 2017

no mínimo igualdade




por Rafael Belo

Há uma nuvem de mágoas sobre nossas cabeças, não lágrimas, não olhos... Mágoas e cabeças. Vivemos irritados cheios de mimimis e razões. É onde habita o preconceito. Exatamente neste estado. A não aceitação do outro e o ódio gratuito espalhado gerando sentimentos contraditórios, cobranças e acusações eternas. Uma separação irracional abalando o emocional, um veneno inoculado abertamente, discretamente e alterando as intenções na medida errada, conforme se espalha. Nestes tempos sensacionalistas de “textões” e “sinceridades” falar o que pensa não é dizer a verdade.

Nós já somos escravos de tantas coisas e ainda não abolimos a escravidão. A escravatura veio das guerras quando um povo subjugava o outro e os subjugados eram obrigados a exercerem quaisquer tarefas para o “vencedor”. Não era questão de pele, de sexo (apesar da escravidão sexual, a prostituição forçada e outros tipos de degradação também variaram desta extrema privação de liberdade). Hoje tudo é medido por pele, gênero, sexo e, principalmente, dinheiro. Mas, nem este tão poderoso deus adorado e tão invocado a todo o momento distorcendo e controlando toda nossa sociedade faz imune o negro do preconceito e do infeliz recorde de maior número de mortos e assassinados.

Fala-se em graus de preconceitos conforme a tonalidade da cor, como se raça assim fosse. Mais claros ou mais escuros... Eu penso em tudo isso como um absurdo e uma discussão inesgotável, mas que termina com a simplicidade de todos serem humanos até os mais desumanos. Ensinar ódio, diferenciação entre classes, etc... Já me irrita tanto, mas se referir a outra pessoa de forma carinhosa ou pejorativa me incomoda na mesma medida e peso. Não importa que seja repleto de boas intenções eu me incomodo. Não há motivo no mundo para ressaltar “neguinho”, “pretinho”, seja lá o que for diante de todas as outras formas possíveis de se referir a uma pessoa e os motivos são tantos quanto uma tese acadêmica interminável.

Existe aqueles capazes de adotar estes “chamamentos” ou apelidos no nome como autoafirmação, forma de lutar contra o preconceito ou demostrar um não importar-se conveniente. O peso das palavras não é só dado pela mente e pela boca, mas pelo tom utilizado, mas enfim a injúria racial pública mais recente - que desolou muitos - foi do caso das celebridades que adotaram Chisomo (significa graça na língua de origem Nianja) e é de Malawi, no Sul do continente africano. A criança, conhecida como Titi, tem pais biológicos, no entanto, não encontrei o motivo dela ser passível de adoção, porém, estamos tratando de racismo. A socialite Day McCarthy foi debochada e racista em comentários gravados em vídeo direcionados a uma criança (Titi) publicado e viralizado chamando toda a atenção em um despropósito imensurável no destilar de ódio contaminando muitos.


Para mim é inconcebível este assunto sequer existir, mas ele está enraizado no nosso país repleto de preconceitos que voltam a ferver toda vez que as cotas voltam a ficar expostas. Há sempre um mimimi ignorante sobre este direito. Não é questão de inteligência é uma questão de reparação histórica irreparável. É desgastante ouvir os “argumentos”, as “justificativas” querendo desmerecer a necessidade das cotas, mas é fato que nunca será possível reparar a situação dos negros humilhados, degradados, chacinados e até quase apagados dos registros oficiais na tentativa de negar a escravidão. Precisamos reavivar o bom-senso e a humanidade para praticarmos no mínimo a igualdade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns! Belo texto!