por Rafael Belo
Há uma nuvem de mágoas sobre nossas
cabeças, não lágrimas, não olhos... Mágoas e cabeças. Vivemos irritados cheios
de mimimis e razões. É onde habita o preconceito. Exatamente neste estado. A não
aceitação do outro e o ódio gratuito espalhado gerando sentimentos
contraditórios, cobranças e acusações eternas. Uma separação irracional abalando
o emocional, um veneno inoculado abertamente, discretamente e alterando as intenções
na medida errada, conforme se espalha. Nestes tempos sensacionalistas de “textões”
e “sinceridades” falar o que pensa não é dizer a verdade.
Nós já somos escravos de tantas
coisas e ainda não abolimos a escravidão. A escravatura veio das guerras quando
um povo subjugava o outro e os subjugados eram obrigados a exercerem quaisquer
tarefas para o “vencedor”. Não era questão de pele, de sexo (apesar da
escravidão sexual, a prostituição forçada e outros tipos de degradação também
variaram desta extrema privação de liberdade). Hoje tudo é medido por pele,
gênero, sexo e, principalmente, dinheiro. Mas, nem este tão poderoso deus
adorado e tão invocado a todo o momento distorcendo e controlando toda nossa
sociedade faz imune o negro do preconceito e do infeliz recorde de maior número de mortos e assassinados.
Fala-se em graus de preconceitos
conforme a tonalidade da cor, como se raça assim fosse. Mais claros ou mais
escuros... Eu penso em tudo isso como um absurdo e uma discussão inesgotável, mas
que termina com a simplicidade de todos serem humanos até os mais desumanos. Ensinar
ódio, diferenciação entre classes, etc... Já me irrita tanto, mas se referir a
outra pessoa de forma carinhosa ou pejorativa me incomoda na mesma medida e
peso. Não importa que seja repleto de boas intenções eu me incomodo. Não há
motivo no mundo para ressaltar “neguinho”, “pretinho”, seja lá o que for diante
de todas as outras formas possíveis de se referir a uma pessoa e os motivos são
tantos quanto uma tese acadêmica interminável.
Existe aqueles capazes de adotar
estes “chamamentos” ou apelidos no nome como autoafirmação, forma de lutar
contra o preconceito ou demostrar um não importar-se conveniente. O peso das
palavras não é só dado pela mente e pela boca, mas pelo tom utilizado, mas
enfim a injúria racial pública mais recente - que desolou muitos - foi do caso
das celebridades que adotaram Chisomo (significa graça na língua de origem
Nianja) e é de Malawi, no Sul do continente africano. A criança, conhecida como
Titi, tem pais biológicos, no entanto, não encontrei o motivo dela ser passível
de adoção, porém, estamos tratando de racismo. A socialite Day McCarthy foi
debochada e racista em comentários gravados em vídeo direcionados a uma criança
(Titi) publicado e viralizado chamando toda a atenção em um despropósito imensurável
no destilar de ódio contaminando muitos.
Para mim é inconcebível este
assunto sequer existir, mas ele está enraizado no nosso país repleto de
preconceitos que voltam a ferver toda vez que as cotas voltam a ficar expostas.
Há sempre um mimimi ignorante sobre este direito. Não é questão de inteligência
é uma questão de reparação histórica irreparável. É desgastante ouvir os “argumentos”,
as “justificativas” querendo desmerecer a necessidade das cotas, mas é fato que
nunca será possível reparar a situação dos negros humilhados, degradados,
chacinados e até quase apagados dos registros oficiais na tentativa de negar a
escravidão. Precisamos reavivar o bom-senso e a humanidade para praticarmos no
mínimo a igualdade.
Um comentário:
Parabéns! Belo texto!
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