Ela acordava todo dia
da mesma forma e inconvenientemente com o mesmo pensamento. Só não era de todo
inconveniente porque... Bem ela não se lembrava. Amélia Jéssica passava pelas
mesmas coisas diariamente, a diferença para ela era sempre ser novidade. Instintivamente
ela não usava verbos no passado ou no futuro, às vezes nem no presente.
Podia sorrir comumente
e estava presente. Naquele momento Amélia Jéssica nem conseguiria ser outra. Era
ela, era agora. Fazia suas higienes, se alimentava, acessa o mundo virtual,
confeccionava seu trabalho ali mesmo e o envia a quantos veículos pedissem. Repetia
os dois primeiros invertendo as ordens e dormia. Ah, adorava passar seus
momentos de folga viajando por meio daquela janela.
Não importava o tempo
emprestado a ela pela janela. Amélia Jéssica conseguia sempre enxergar o sol. Podia
ser inverno, outono, primavera e Amélia ainda assim enxergava o verão em tudo,
por mais que preferisse o silêncio e a profundidade do inverno. Não o inverno
brasileiro só de frio, quando o era. O europeu com muita neve, por mais que
nunca tivesse passado por ele ou ela.
Amélia estava em coma
há quase três décadas e nestes 30 anos quem ainda a conhecia morreu, quem era
da família a esqueceu. Amigos e familiares ela fazia no cotidiano permitido
pela sua memória. Era como viver em um Silo de centenas de compartimentos separados
por profundidade de andar. Enterrada em si mesmo era feliz e apesar de acordar
todo dia sorrindo ela não estava presente no próprio futuro.
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