Não reconhecia nada e
estava muito quente. Tudo se movimentava a girar e girava. Ele tinha certeza
que aquele João-de-Barro o observava com um brilho de reconhecimento no olhar. Mas,
espera como foi parar ali? ... Algo a ver com rachaduras. Não! Silvio Silva se
levantou de imediato olhando obsessivamente ao redor.
O pássaro nem se
mexeu. O encarava sobre sua asa esquerda fechada. Seu olhar atravessava o mato
alto, mas amassado. Local exato onde Silvio despertou. Ele percebeu a força do
olhar do pássaro não era só reconhecimento, havia mais naquele olhar do que ele
podia encarar. Era uma ação prestes a acontecer. Uma reação...
Silvio vasculhava os
escombros e as aves o vasculhavam. Os escombros do lugar que um dia foi seu
lar, os destroços que um dia o foram. As aves iam se amontoando como se o barro
ganhasse vida. Havia chovido no dia anterior não muito, mas o suficiente para molhar
o chão batido e o revirar. Agora eram milhares de Joãos o reconhecendo e
culpando do mesmo jeito, com o mesmo olhar.
Ouviu uma revoada e
seu coração pareceu correr. Temia algo que só seu íntimo sabia. Silvio também
estava repleto de rachaduras. A cada bater de asas ele se sentia rachar. A fissura
vinha do chão e parecia o atravessar até ganhar o vazio. Ele não iria escapar. Quando
todos os pássaros bateram as asas, Silvio tinha certeza que já não era nada. Milhares
de João-de-Barro o levavam no bico de volta para o barro, de volta para casa.
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