quarta-feira, julho 30, 2014

segredo (miniconto) – por Rafael Belo





Não havia qualquer claridade lá fora. Apenas faróis nervosos cruzando as ruas molhadas. De pessoas existiam sombras passando rápidas tentando não se molhar na garoa gélida e persistente como o inverno soprando suave, mas denso. Estava frio como sair de uma sauna direto para graus negativos em plena noite. Gi Genérica estava com medo e tremia, mas o tremor era frio.

Sua visão estava turva. As distâncias se confundiam. Longe era perto, perto era longe. Gi se confundida e claro estava ficando tonta com tanta variação. Encostou a cabeça no vidro do carro e o embaçou com sua respiração quente.  Não sabia exatamente o que enxergava, então fechava os olhos e balançava a cabeça.

Quando o poste lá fora se apagou, Gi bateu a cabeça com tanta força a ponto de garantir a presença de todos os astros do universo e as estrelas já inexistentes, mesmo sendo luz artificial e gotas de chuva. Ela se deu conta da improbabilidade da situação. Como podia enxergar algo com a luz do poste apagada? Seu medo aumentou, mas não pensou na luz própria de globos celestes.


Todos os postes da rua começaram a oscilar e junto com os cruzados faróis entrecortados dos carros velozes, mais sombras corriam. Gi acordou assustada com um vulto tentando abrir a porta do carro. Ela escondia um segredo que seria bobo, mas escondê-lo era o problema. Então simplesmente gritou e saiu ensandecida pelas ruas deixando a vozinha trancada para fora do próprio carro.

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