Sem chaves, na
friagem e o sereno ainda derrubava mais alguns graus acompanhado dos fortes
ventos a mais de 60 km/hora. Todos tinham abandonado as casas e se reunido no
único lugar onde havia aquecimento interno. Estavam no aquário municipal. Aliás,
quase todos, Ariela não queria nenhum calor humano, nenhuma pergunta impertinente,
muito menos saber desta gente da cidade. Até aquele instante quando percebeu a
verdade. Cada palavra dita estava acontecendo. Ela estava congelando e viu o
frio levar com o sopro a vida de trapos na rua tão humanos...
Agora não era
possível enxergar nem as próprias mãos. Uma densa neblina engolia a cidade e a
dissolvia em nada. Dois dos três tropeços de Ariela a tinham levado com o rosto
em mortos. Congelados. Ela os conhecia. Além do medo e do frio, Ariela tremia
de dor e angústia. Tinha de lidar com sua escolha e talvez morresse do
insuportável sofrimento ao invés de frio, aliás hipotermia. Sua pela já estava
ficando azulada, mas Ariela não enxergava. Estava ficando insensível como
sempre quis ser.
Parecia um reinício. Reinício
do fim. Nada da escuridão. Não havia
absorção. Aquela brancura era reflexão. Estava tão densa, tão viva e matava. O que
mais matava Ariela era a falta de sincronia. Suas coisas aconteciam quando ela
não queria mais. Por que iria morrer? Tanta gente melhor para estar morta e
vivia. Se tivesse avisado que vinha... Se não tivesse esgueirado por toda parte
permanecendo ausente daquele lugar, daquela cidade... E era esta mesma a
devora-la, a mastiga-la lentamente, saboreando...
Ninguém sabia dela há
anos. Ariela virou às costas aos pais, a toda a cidade que a tinha como querida
e foi estudar. Na Capital pôde se despir. A sua arrogância pairava dos olhos a
boca e sua frieza a fez se sentir rejeitada. Aguentou muito tempo em silêncio. Depois
foi espreitar para ver como voltaria. Quais formas permitiriam a ela dominar
esta cidadezinha, mais com cara de vila. Dividir, conquistar, destruir...
O próximo passo... O
próximo passo de Ariela foi dentro da lagoa turística ao mesmo tempo que mais
dez graus derrubavam a temperatura para muitos negativos. Congelada ela pôde
ver pela última vez, um sorriso naquele inseto a encarando. Ariela pensava por
que ele está... E tudo ficou parado.
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