Se fosse apostar
diria que estavam todos mortos, mas sabia que era uma aposta errada. Os moradores
daquela rua deveriam estar dormindo ou resolveram todos abandonar as casas de
uma vez. Dava medo. Ele tremia da cabeça aos pés. Parecia o segredo revelado do
liquidificador. Ele olhava para o vazio daquela rua vazia e tremia ainda mais. Chacoalhava
tanto, mas tanto... Não conseguia raciocinar. O irracional medo não permitia. Estava
se sentindo consumido, agredido por aquela noite sem fim.
O horizonte queria
clarear. O sol forçava sua entrada, mas havia outra força ainda maior tentando
permanecer naquela fria escuridão. Aquele dia não queria terminar e havia um
impasse. Elias sentia que não queria saber. Seu relógio estava parado. Seu carro
dera uma inexplicável pane geral. Algo dizia que Elias deveria reconhecer
aquele lugar. Mas ele fazia um tremendo esforço para não se lembrar e tremia de
uma maneira extrema. Um tipo de tremor ainda não identifica-lo e pela
experiência de Elias, coisas raras não eram boas.
Havia uma luz tênue. Tão
sem proposito que parecia parte da paisagem, mas não na frente daquela casa,
cuja sensação a lhe passar era totalmente desagradável. Tudo ali era
ostensivamente mal iluminado e parecia haver mais mal por aí. Mas ele sabia ser
bobagens o que sentia pairar era ódio, abandono e confusão. Foi forçado a
entrar naquele lugar. Uma casa vazia. Estava morta. Mas Elias ouvia sons e os
procurava no celular. Via luzes e elas estavam apagadas. Seu corpo inteiro era arrepio
e ainda não era de frio. Havia muita adrenalina para tanto. Estava incontrolável.
Tremendo e rígido ao mesmo tempo. Tinha certeza que o silêncio deveria imperar
ali como lá fora e não era assim...
Nem sequer uma brisa
se mexia. Estava tudo frio e parado. Elias calculava que sentia o frio de cerca
de 10°. Tentou não se desesperar ao perceber estar na casa de três gerações
mortas totalizando quatro pessoas. Ele reconhecia. Ele não as via, não
acreditava nelas, mas não importava... Elas estavam ali sussurrando. Elas acreditavam
em si e queriam acreditar nele. Estava tão arrepiado que sua pele parecia um
escudo medieval de bronze. Sentia uma força chama-lo mas ele queria tanto não
entender que não entendia. Sentia mãos tentando puxá-lo.
Quis parecer calmo e
se forçou a se controlar e não tremer. Mas, ondas de arrepios misturavam seus
sentidos. Ele acelerou os passos até a porta. Fechou a porta. Sem olhar para
trás em nenhuma destas ações. Só quando estava no corredor, quase na rua soube
o motivo de não olhar. Se olhasse entregaria seu corpo a alma e seria levado
por aquela força vazia do vazio. Percebeu estar anoitecendo novamente. Viu o
porto, o mar e as últimas manchas solares sobre as montanhas. Agora estava bem
e se não estivesse não queria saber.
Um comentário:
Olá, Rafael.
As ruas silenciadas, expõe, o mistério da observação.
Abraços.
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