Havia tantos ângulos
para olhar e ela não queria esquecer nenhum. Imaginava-se enquadrando as
imagens. Os indicadores e polegares estendidos formando 90° em quadrados e
retângulos. Ora a mão direita em cima, ora a mão esquerda... Depois de um tempo
visualizava fotos em qualquer imagem. Pessoas, paisagem tudo dava vontade de registrar
e Eliana Capta já nem erguia mais as mãos, mas se perdia em seu olhar fixo às
vezes longe, outras perto torcendo e se retorcendo em seus subterrâneos.
Já tentou repetidas
vezes a mesma cena e cada imagem era outra sendo repetição. Tantos detalhes,
tantas palavras... A vida de Eliana era ela e a máquina digital. Três vezes
quase foi enterrada viva. Eliana tinha uma rara catalepsia patológica. Seu
corpo poderia ficar dias com um funcionamento tão mínimo e rijo, que nem a
morte entrava em um estado cadavérico tão bom.
Se a morte não fazia
tão bem, Eliana era a melhor, mas só trabalhava quando e como queria. Gostava de
torcer com o olhar para a foto ser a melhor da vida dela e torcia assim por
cada uma. Conseguia que saíssem como imaginava, como enxergava de seus subterrâneos.
Eliana se misturava tanto aos locais que perdia a identidade, ela reconhecia a
imagem a imagem a reconhecia.
Mas ninguém
reconhecia a raridade de usa rara doença. Em sua quarta e última crise de catalepsia,
a denominação judaica de Eliana ajudaria a ela alcançar o paraíso, quem sabe
nas etapas até lá registraria o impossível. Ela estava nas reservas ambientais
quando em meio a um grupo teve a crise e o Judaísmo não permite autopsia. Eliana
foi direto para o inferno o que significa que seu corpo voltaria ao pó e sua
alma sofreria e alcançaria o céu quando fosse o tempo. Enquanto isso,
registraria uma nova jornada.
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