sexta-feira, julho 25, 2014

janela intensa (miniconto) – por Rafael Belo







Para quê portas e vidros nas janelas? Nem teto era preciso. O acesso a paisagem proporcionava mais conforto e uma alegria inexplicável em Marco Mil. Cada cor chamava um amigo a sua mente e ele viajava na lembrança. Nunca perdera contato com nenhum, às vezes acontecia da distância e o tempo se intrometerem, mas bastava se encontrarem e ambas as relatividades jamais tinham existido.

Era encontrá-los e as afinidades se afloravam. Nada parecia ter mudado da última conversa e ela continuava do mesmo ponto. Mas, Marco estava mais ausente no último ano. Pouco revelou de si para seus amigos e entre muito menos em contato. Todos desconfiaram e começaram a combinar uma surpresa coletiva.

Olhando pela janela e sentindo aquela inestimável força do que via e era visto, Marco não percebeu quando dormiu. Estava tão cansado de todas as escolhas erradas e as consequências desastrosas que o deixaram sozinho e sem condições de terminar seu único bem. Estava na casa própria há alguns dias e já precisava tomar banho. Passou cada dia da última semana em claro. Não seria fácil de acordar. Seus amigos haviam descoberto tudo e chegaram preparados para erguê-lo.


Quando acordou o mutirão de amigos tinha terminado a casa e ao redor de Mil estavam todos eles esgotados. Dormiam todos profundamente. Passaram 24 horas aceleradas. Até pintaram a casa. Mas, também não eram todas as pessoas que tinham tantos amigos e pelo menos 20 na área da construção. Cada um deles era parte da janela de Marco e ele nunca deixava de olhar por ela. Agora não parava de olhar para eles e ter uma alegria ainda mais intensa.

Nenhum comentário: