por
Rafael Belo
Refletimos em
qualquer superfície captando nossa luz, mas mesmo com olhos saudáveis, àqueles
não expostos diretamente ao sol, à leitura em iluminação ruim, à televisão em
ambientes escuros, não coçados e esfregados, nos procuramos por toda parte e
não estamos por aí. Esta vontade de nos ver, principalmente por alheios, olhos
nos faz enxergar através atravessando a visão pelas superfícies das pessoas e
do mundo.
Qualquer objeto que
nos mostre chama nossa atenção, prende nosso olhar e leva ao bizarro ensaio dos
ângulos e perfis em busca de nós mesmos e gostamos cada vez mais da nossa
aparência, não acha? As selfies e os go-pro (os vulgares pau de selfie), estão
postando e compartilhando este nosso vício em nós mesmos. Este “eu”, esta “a
própria pessoa” é a extensão da nossa desapropriação, da nossa insegurança.
Precisamos dos autoelogios,
dos elogios alheios, da aprovação de terceiros, do nosso constante autorretrato
da reafirmação de quem somos, somos mesmo? Somos quem, afinal? Um reflexo
surreal, a representação do entendimento da luz nos atingindo? Somos apenas
estes montes de poses e apelos acumulando pó no canto no centro do espelho?
Nossa imagem
trabalhada de autoadmiração procura todos os cantos escuros para repreendê-los e
tapá-los para nos tapear profundos quando Narciso somos. Superfícies de superfícies,
nosso inferno de vaidades e insensibilidades definha no leito do nosso próprio
rio. Somos nosso narcótico, aprofundados apenas de ego sem querer jamais apagar
a luz para não nos confrontarmos com nossa escuridão e real reflexo aprisionado
sem espelhos para escapar.
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