por
Rafael Belo
O
dia estava em sua primeira fase, fim de madrugada. Preto básico rareando,
clareando azul alto-mar. Mar aberto chegando, raiando um claro azul logo
adiante contrastando com o empoçar do escuro que logo esclarecerá. Escorre
ainda o dia anterior empoçando na garoa a se acumular no meio-fio inundando
acostamentos como os veículos pela cidade. Luzes brancas, amarelas, azuis,
vermelhas incomodando o amanhecer e Lícia não aguentava.
Falava,
falava e falava por todo o silêncio disfarçado ao seu redor. Faltava muito
ainda para seis horas da manhã e o muito de Lícia eram 15 minutos. Mas era um
filme diário exaustivo a fazendo madrugar. Acordar antes de um galo inexistente
na tumultuada capital das engrenagens financeiras do Brasil e para quê? Para
engarrafar e chegar cedo demais...
Como
em um dia de fúria, abandonou o carro ligado em ponto morto e saiu. Não havia
calma, ela corria. Corria, corria e corria sem sentir o repuxar dos músculos
estressados das pernas, o vai e vem preocupante dos seios, a dor de cabeça aumentando
e os carros fechando janelas e abrindo espaços. “Havia espaço então...?!”, ela
pensou pouco antes de tropeçar em si mesma e cair...
Caiu,
caiu e caiu novamente a mesma queda. O dia não seria nenhum tom de azul. Estava
cinzento, nublado sujeito a alagamentos e mais caos na cidade e mais paradeira
e empoçamentos... Era frio como friamente foi calculada a manifestação dos
caminhoneiros que entregavam colchões Sono Bom... Ao sentir a maciez da queda
percebeu quanto sono ruim tinha acumulado e dormiu.
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