quarta-feira, abril 08, 2015

Sono Bom

por Rafael Belo

O dia estava em sua primeira fase, fim de madrugada. Preto básico rareando, clareando azul alto-mar. Mar aberto chegando, raiando um claro azul logo adiante contrastando com o empoçar do escuro que logo esclarecerá. Escorre ainda o dia anterior empoçando na garoa a se acumular no meio-fio inundando acostamentos como os veículos pela cidade. Luzes brancas, amarelas, azuis, vermelhas incomodando o amanhecer e Lícia não aguentava.

Falava, falava e falava por todo o silêncio disfarçado ao seu redor. Faltava muito ainda para seis horas da manhã e o muito de Lícia eram 15 minutos. Mas era um filme diário exaustivo a fazendo madrugar. Acordar antes de um galo inexistente na tumultuada capital das engrenagens financeiras do Brasil e para quê? Para engarrafar e chegar cedo demais...

Como em um dia de fúria, abandonou o carro ligado em ponto morto e saiu. Não havia calma, ela corria. Corria, corria e corria sem sentir o repuxar dos músculos estressados das pernas, o vai e vem preocupante dos seios, a dor de cabeça aumentando e os carros fechando janelas e abrindo espaços. “Havia espaço então...?!”, ela pensou pouco antes de tropeçar em si mesma e cair...

Caiu, caiu e caiu novamente a mesma queda. O dia não seria nenhum tom de azul. Estava cinzento, nublado sujeito a alagamentos e mais caos na cidade e mais paradeira e empoçamentos... Era frio como friamente foi calculada a manifestação dos caminhoneiros que entregavam colchões Sono Bom... Ao sentir a maciez da queda percebeu quanto sono ruim tinha acumulado e dormiu.

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