por Rafael Belo
Todos parados. Prado
conseguiu este último registro, esta última imagem antes de parar também. Mas,
enquanto todos estavam se movimentando lentamente em frente a espelhos,
televisões desligadas, telas de computador sem funcionar, celulares sem bateria
e qualquer superfície reflexiva, Prado observava a própria sombra. Claro, se
você não estivesse prestando muita atenção não saberia de nenhum movimento
naquela parada.
Em comum àquela
suposta paradeira havia a luz. Sem luz não há sombra... Prado passou a
perseguir a própria sombra, mas demorou anos em outros espelhos e contornos
atrapalhando a projeção de lâmpadas e do sol, para ir atrás da própria. Então,
era comum andar de costas dependendo do horário do dia e da direção a caminhar.
Mas sombras
passageiras o despertaram e Prado passou a parar em outra perseguição...
Perseguia sombras de nuvens. Talvez (não!) a vontade e a fé não sejam o
suficiente para quem foi tão fundo na superfície do espelho porque não deve
haver maior façanha... Lá vai Prado correndo atrás de sombras de nuvens... São
tantos Prados correndo...
Nem parece mais um
parado. “Olha só os dos celulares ergueram as cabeças”, pensou Prado, “Como
conseguiram bateria...?. Mas era só para mais um autorretrato tão antigo quanto
à pedra lascada... Antes de partir Prado pensou: “Se todos estes autorreflexos
se partirem nem dará tempo para reflexão... Quem sabe não seja esta a ideia”,
foi tudo feito balançando lentamente a cabeça antes de parar de vez sem se
encarar diante da imagem da sua representação.
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