por Rafael Belo
Será
isto que todos pensavam ou não pensavam nada antes de pular?
Perguntava-se Piegas Eça enquanto se equilibrava na beirada do terraço com uma
sensação de vastidão do mundo, pequenez e ao mesmo tempo posse. Havia uma
angústia lhe mastigando vorazmente de fora para dentro, diante dos olhos dele.
Doía e aliviava ao mesmo tempo como se o ar respirado lhe inspirasse e poluído,
ácido, o corroesse.
Era a intolerância e
a tolerância. Piegas era as duas coisas... Será
possível ser duas coisas mesmo? Não! Conversava consigo se torturando com
sua aflição diante das considerações próprias sobre as “erradas” escolhas e
pensamentos dos outros. Queria ele ser profundo pensador como Voltaire, mas não.
Piegas era apenas mais uma nota de falsidade no mundo.
Uma infeliz nota
consonante diante da necessidade de dissonância e desequilibrado trocava as
pernas olhando um mundo agora neblinando. De repente tudo ficou branco e
gelado... As coisas mudam de lugar como o clima caindo com categoria
desconhecida. Piegas tremia pensando na coragem das pessoas e ao olhar para
baixo as procurando percebeu sua queda...
Estava tão alto a
ponto de minutos passarem antes dele se dar conta de ter parado no ar. Bem, sua
mão encontrara um apoio e agora Piegas olhava para os poucos centímetros o
separando do fim do abismo naquele desafio de quem piscar primeiro perde...
Havia luz e as sombras da luz naquele encarar triplo.
Os três assim ficaram
até Piegas desviar o olhar e pisar no chão fascinado com uma vaca leiteira na
favela alimentando um cão e um gato e apesar das óbvias diferenças, não havia
diferença alguma. Ele sentiu algo se rasgar dentro dele como consequência de
uma série de infinitos e tocou sua derrota sem estar preparado para admiti-la.
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