quarta-feira, abril 01, 2015

Planejamento


por Rafael Belo

Ela estava no terraço há tempos. Ninguém a via lá nem a estimulava ou desestimulava a pular. Antes ela olhava da sacada para cima pensando quão alto poderia chegar. Como um felino acuado ela media o espaço caminhando impaciente para um lado e depois voltava. Aliás, quem a via achava ser impaciência, mas não. Genuína enfrentava seu medo.

Não era de altura e Genuína não era suicida. Nem sequer chegará um dia a passar pelos pensamentos dela tal impulso. Ela sabia que a aglomeração de gente gritando gasturamente seu nome era ilusão. Quem prestava atenção? O medo a desafiava e ela aceitava o desafio. Acordou quando todos ainda tentavam esticar a última hora de sono, desligou o celular, passou pelos pontos cegos das câmeras... Já tinha planejado há muito tempo...

A fobia dela já a paralisou outras vezes, aquele pânico e não tinha ninguém lá, justamente isto a fazia ofegante e quase histérica. Não confiava nas companhias. Veja, não é que não confiava nas pessoas... Ela sabia ser incompreendida porque ninguém admitia todo mundo ter o mesmo medo: de estar só. Ficar então era inimaginável.


Popular como era Genuína nunca podia ficar só, mas sempre estava. Não sabia como havia sido empurrada para aquela enxurrada de gente a sugando, bem... Sabia vai... Ali no ponto mais alto do Estado, além da solidão de um paulistano, ela via tudo parado e ela também permaneceria assim agora até as buscas por ela a darem como morta... Do jeitinho que havia planejado, para poder viver e encontrar outros medos.

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