por
Rafael Belo
Ela
estava no terraço há tempos. Ninguém a via lá nem a estimulava ou desestimulava
a pular. Antes ela olhava da sacada para cima pensando quão alto poderia
chegar. Como um felino acuado ela media o espaço caminhando impaciente para um
lado e depois voltava. Aliás, quem a via achava ser impaciência, mas não.
Genuína enfrentava seu medo.
Não
era de altura e Genuína não era suicida. Nem sequer chegará um dia a passar
pelos pensamentos dela tal impulso. Ela sabia que a aglomeração de gente
gritando gasturamente seu nome era ilusão. Quem prestava atenção? O medo a
desafiava e ela aceitava o desafio. Acordou quando todos ainda tentavam esticar
a última hora de sono, desligou o celular, passou pelos pontos cegos das
câmeras... Já tinha planejado há muito tempo...
A
fobia dela já a paralisou outras vezes, aquele pânico e não tinha ninguém lá,
justamente isto a fazia ofegante e quase histérica. Não confiava nas
companhias. Veja, não é que não confiava nas pessoas... Ela sabia ser
incompreendida porque ninguém admitia todo mundo ter o mesmo medo: de estar só.
Ficar então era inimaginável.
Popular
como era Genuína nunca podia ficar só, mas sempre estava. Não sabia como havia
sido empurrada para aquela enxurrada de gente a sugando, bem... Sabia vai...
Ali no ponto mais alto do Estado, além da solidão de um paulistano, ela via
tudo parado e ela também permaneceria assim agora até as buscas por ela a darem
como morta... Do jeitinho que havia planejado, para poder viver e encontrar
outros medos.
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