por Rafael
Belo
Estou no
topo. Aprendi a subir sorrindo até com os pés cortados, os joelhos ralados, as
mãos feridas e o coração despedaçado. Minha mente resolvida sabia o tempo de
manter esta dor. Olho as cicatrizes sendo absorvidas pela pele, pelo meu
organismo tão vivo e viajo pelas possibilidades de me deslocar, de ser livre,
de ser o espaço, o lugar... Meu mundo. Se houver desperdício nesta vida, deve
ser ficar parado, sem se movimentar...
Esta é minha
primeira viagem e há dias não ouço nem vejo ninguém. Por isso, falo alto e rio
sozinha... Não! Não estou sozinha! Há tanta companhia ao meu redor. Veja só. Olhe
ao meu redor. Sinto-me plena como o vento. Eu era apenas uma sonhadora, um
momento, como tantos navegantes encalhados por aí. Agora eu sou a sonhadora, o
momento, vivendo meu sonho de conhecer e romper todas as barreiras.
Minha carreira?
Quem inventou esta fórmula do sucesso? Este acesso as futilidades, a escravidão
pelo dinheiro e a ilusão daquele circo e muito pão? Não. Eu aboli minha
escravidão naquele instante no qual esvaziei... Sim, esvaziei minha mochila. Quase
nada pesa aqui. Só há roupas leves, um par de calçado e de chinelo extras. Ri dos
padrões, fiz piadas com os patrões e agora, vejam só, eu subi.
Estou aqui. Sou
o vento, o tempo, a distância, o Nirvana, a iluminação, a meditação me
desprendendo das rebarbas ainda tentando me fazer prisão... Sou libertação. Emoção.
Este canhão, esta natureza exuberante, estas rochas, este mar... Todo o
horizonte navegante na minha embarcação sem fim. Eu sou assim: a mulher mais
bela, uma tela em branco, uma janela... O passado, o futuro e o presente neste
instante acontecendo junto porque início, fim e meio são um só. Também sou
reticências, mistério sem ponto final e este sorriso se formando agora em mim e
em você porque aproveitando esta viagem a próxima vai se preparar e a gente
nunca vai parar.
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