sexta-feira, setembro 22, 2017

Você precisa se encontrar também (miniconto)







por Rafael Belo

Meu coração já não se parte mais. As pessoas não me decepcionam mais. Se eu me apaixono e desapaixono? Claro, mas nunca desamo. Hoje, meu coração tem toda razão e é um músculo forte. Já fui do Centro, do Leste, Oeste, do Sul e do Norte... Hoje só navego. Mas, não me considero a navegante. Às vezes, nem levanto a vela... Vou pelo ondular das águas... Assim, sempre volto para o mar. Aqui estou mais uma vez. Pensando, me renovando com o coração inteiro. Não o entrego mais, apesar de ser entrega sempre.

Sabe, eu até tento me apaixonar, mas vejo ser tudo ilusão minha. Acaba logo como chama de vela pequena... Todas as minhas celas eu arranquei as barras uma por uma e estou livre, mas mesmo assim sofro da síndrome da pata presa. Sou aquele elefante cheio de memória e experiência, mas como passou a vida preso pelo tornozelo não faz ideia da força que tem, nem que esta é suficiente para derrubar a árvore. Nada é capaz de nos prender além da manipulação e do condicionamento.

O sofrimento não me pertence mais. Já fui mulher capaz de entregar o coração para o outro pensar eu ser dele. Sou só de mim mesma e olhe lá. Cada rolê que vou não tenho paz para sequer dizer não, mas o digo e não permito um sem noção nenenzão tirar minha paz. Demorei demais para conquistá-la... Às vezes a gente trava... Desculpe só posso falar por mim, não é, não? Às vezes eu travo. Isso só pode significar que eu não estou pronta... Não quero forçar nada antes de me sentir bem comigo mesma, por isso, estou aqui. Meu corpo é minha igreja e este navegar minha oração.


Não gosto de sutilezas ou jogos. Não enrolo. Sério! Só não sei ainda diferenciar gentileza de interesse, mas o fato é que não estou interessada. Sorrio sim por nada. Nada do seu interesse... Eu venho para cá em mais uma jornada em busca do novo eu. Posso ser encontrada em qualquer lugar barulhento ou não, mas quero ter esta sensação de não pertencimento, de encolhimento e imensidão diante da Natureza. Distanciamento é bom, então me deixe só agora. Respeite-me! Vá embora, afinal você precisa se encontrar também.

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