quarta-feira, setembro 06, 2017

Onde vim parar!? (miniconto)






Por Rafael Belo
Não sei se a noite foi leve ou pesada demais. Não me lembro de ter acordado assim antes. Havia um lampião apagado logo acima de mim. Na primeira vez que abri os olhos achei muito irreal, o lampião parecia aceso. Fiquei pensando sobre o rolê, mas imediatamente dormi novamente. Acordei definitivamente com um calor danado, um silêncio trevoso e travada. O lampião parecia aceso, mas desta vez era o efeito dos raios de sol. Conferi se não sentia nada, além da dor de cabeça, do gosto de ferro e do desgrenhamento geral, nenhum arranhão.

Levantei e percebi ter dormido em cima daquela mesa de madeira dura e cheia de nódulos. Explicava mais algumas dores... Fiquei em pé no banco e meus olhos desfocaram junto com o giro da realidade. Óbvio, estava tonta. Olhei a frente e o lampião saiu de plano. Ao fundo um balão preenchia o globo central da brandeira brasileira. Encostada na parede precisei reparar melhor onde estava. Nada ali era novo. O ar era autêntico com um quê de salino e mofo. Preciso achar significado para tudo ou surto ou morro...

Eu li nisso tudo a necessidade de ser louca mesmo no meio do passado no qual insistimos em viver. Filosofia da ressaca... Apesar da expressão machista, vulgar e não verificada, me sentia uma puta barata. Não estava em casa ou em qualquer lugar conhecido, só com a roupa do corpo. Agora estou aqui com a boca seca da embriaguez, da bêbada da noite passada mesmo. Pelo visto ela nada fez porque ela contiua eu. A médica e a monstra... Uma viagem! Não entendo o porquê de não ter ninguém aqui. Isto é um tipo de hospedagem, mas estes paralelepípedos em toda parte...


Como vou andar neste solo irregular? Eu estou um desgaste. Um total desastre. Pareço ter sido dominada por alguma parte de mim fragmentada, sem dinheiro nem nada, realizando o sonho de viajar. Sinto-me usurpada... Estuprada... Mas, mas... Não fisicamente, nem psicologicamente... Foi moralmente. Minha cidadania foi destruída e fui tratada como objeto. Uma peça de reposição, não! Uma peça descartável. Eu não amo minha nação, amo a mim mesma, por isso a deixei... Ei! Bom discurso. Será que dei adeus? Ai meu Deus...! Estou começando a me lembrar! Eu já fui presidente de algum lugar ou seria de lugar nenhum? Viajei! Onde eu vim parar?!

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