quarta-feira, setembro 27, 2017

Quanto tempo (miniconto)






por Rafael Belo


Eu vivo esperando meu tempo chegar, mas ele não vem. Sou dessas mulheres livres, únicas tipo Elis. Mas, ando coberta pela minha própria poeira e pela sujeira espalhada por mim por aí. Minha intuição me trouxe até o Monumento do Relógio, este obelisco falso da cidade. Digo isso porque ele realmente não é o original. Este foi demolido e não passa de uma réplica. Pensando assim, assim me senti. Mera réplica de mim.

Sentada aqui me imitando, repetindo todo meu feito sem querer perceber. Não aceito, mas nem sempre noto. Quando me ajeito, saboto... Este é meu defeito... Claro, o sujeito escolhido para fazer manutenção do meu coração, também ajuda pouco.  Aí venho aqui sozinha como se fosse um rolê, mas não... Chego já bodada com vontade de ir pra casa sem perder tempo. Então, penso de novo enquanto desovo nas horas minha agonia no meio do povo passando...

Estou me adiantando, mas me sinto atrasada. Nem sei se estou presente, ajeitada... Preferia não achar nada e seguir a manada. Este deve ser o melhor efeito desta droga parecida com democracia. Seguir entorpecida sem pensar na vida... Esta quase democracia parece meu quase livre-arbítrio... Só tem nome e eu nem sei usar. Alguém aí tem manual de instrução? Aponta uma direção para eu tentar, vai? Esquece tudo. Eu não disse nada. Nem sou parecida com ninguém...


Sou eu mesma mesmo perdida no tempo até porque eu sou este tempo, não é? Alguém pode confirmar? Produção!? Não?! Estou sozinha mesmo. Cantarolando “Toda Forma de Poder”... “Se tudo passa talvez você passe por aqui e me faça esquecer tudo que eu fiz...”. Mas, agora não tenho forças para sair do talvez. Não sei se passa, se você passa... Sei da minha passagem e mesmo assim sigo em dúvida. Aqui, no Monumento do Relógio, vou esperar mais um tempo pensando em quanto tempo tenho e se tudo vai se ajeitar se eu só esperar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa mulher é tristonha . Cinthia