por Rafael Belo
Eu vivo
esperando meu tempo chegar, mas ele não vem. Sou dessas mulheres livres, únicas
tipo Elis. Mas, ando coberta pela minha própria poeira e pela sujeira espalhada
por mim por aí. Minha intuição me trouxe até o Monumento do Relógio, este
obelisco falso da cidade. Digo isso porque ele realmente não é o original. Este
foi demolido e não passa de uma réplica. Pensando assim, assim me senti. Mera réplica de mim.
Sentada aqui
me imitando, repetindo todo meu feito sem querer perceber. Não aceito, mas nem
sempre noto. Quando me ajeito, saboto... Este é meu defeito... Claro, o sujeito
escolhido para fazer manutenção do meu coração, também ajuda pouco. Aí venho aqui sozinha como se fosse um rolê,
mas não... Chego já bodada com vontade de ir pra casa sem perder tempo. Então,
penso de novo enquanto desovo nas horas minha agonia no meio do povo
passando...
Estou me
adiantando, mas me sinto atrasada. Nem sei se estou presente, ajeitada... Preferia
não achar nada e seguir a manada. Este deve ser o melhor efeito desta droga
parecida com democracia. Seguir entorpecida sem pensar na vida... Esta quase
democracia parece meu quase livre-arbítrio... Só tem nome e eu nem sei usar. Alguém
aí tem manual de instrução? Aponta uma direção para eu tentar, vai? Esquece tudo.
Eu não disse nada. Nem sou parecida com ninguém...
Sou eu mesma
mesmo perdida no tempo até porque eu sou este tempo, não é? Alguém pode
confirmar? Produção!? Não?! Estou sozinha mesmo. Cantarolando “Toda Forma de
Poder”... “Se tudo passa talvez você passe por aqui e me faça esquecer tudo que
eu fiz...”. Mas, agora não tenho forças para sair do talvez. Não sei se passa,
se você passa... Sei da minha passagem e mesmo assim sigo em dúvida. Aqui, no
Monumento do Relógio, vou esperar mais um tempo pensando em quanto tempo tenho
e se tudo vai se ajeitar se eu só esperar.
Um comentário:
Essa mulher é tristonha . Cinthia
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