Não estava azul o céu.
Onde a vista alcançava estava nublado, fosco e parado. Aonde havia movimento
seu olhar não alcançava. Mas, ela se sentia bem. A tranquilidade corria pela
sua pele como aquela brisa gostosa das últimas horas da tarde. Deitada na grama,
vibrava seu corpo lentamente coexistindo no mesmo espaço de todos os passos e
rodas passando por ali, mas limitava sua visão com parte da cabeça recostada
nesta árvore.
Urbana acompanhava
cada galho e se confortava nas folhas se imaginando escalando a árvore e se
entrelaçando folha por folha... As pessoas viam aquela mulher solitária jogada
na grama e a cada 20 transeuntes um parava e perguntava se Urbana estava bem. Os
demais julgavam que não e alegavam a terem visto usar entorpecentes.
Deitada e subindo na
árvore ao mesmo tempo, Urbana estava de cara limpa, mas não fazia comédia,
apesar de ser bem-humorada, era seriamente aquela criança livre de outrora. Correndo
descalça, pulando nas poças d’água, tomando banho de chuva, sem posicionamento
social nem divisões classistas, na escassez das areias movediças acompanhando o
vento aonde se menos esperar se debater...
Era um ser que
fechava os olhos para ascender os sentidos. Era o possível e o impossível até
não ser mais. Mas, se aceitava de uma maneira que aquela velha nova criança
liberta não entenderia há 20 anos, porém, agora era parte, era todo, toda ela e
mais ninguém e não haveria maquiagem suficiente para transformá-la novamente,
mas não abriria mão de cuidar dos cabelos. Isso não! Quando o sol dava seus
últimos suspiros saiu de trás das nuvens e trouxe as cores com ele. Urbana
olhou para os lados e não estava sozinha. Meninos e meninas de todas as idades
voltavam a se perceber, deitados e subindo em árvores ao mesmo tempo.
Um comentário:
Texto e foto lindos.
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