quarta-feira, setembro 24, 2014

Subindo a ladeira (miniconto) – Rafael Belo



As primeiras luzes da noite já contrastavam com o azul se tornando preto, uma meia lua prateada fazia oposição ao sol deitando atrás das casas nas cobertas do horizonte. O córrego refletia e se transformava em um outro céu enquanto o Cavaleiro Guarani continuava ali em um eterno galope com sua lança apontada em seu equilíbrio lateral como se caçasse a própria cidade dilatando e contraindo com o contínuo calor fora de época.

Escondida ao lado do monumento, entre a cidade e o Parque, Vintage ria. Não conseguia parar. Um momento de bobeira foi transformado em um gargalhada ensandecida afastando qualquer um disposto a se aproximar. Aquele parque a levava de volta a infância quando seus pais a levavam para passear e ela andava de bicicleta. Foi quando ela conheceu uma criança extraordinária na idade das perguntas questionando os pais sobre tudo.

Sempre voltavam para lá e a criança estava nos mesmos dias. Vintage se divertia... Nunca mais se divertiu como naqueles tempos... Achava graça em pouca coisa, tinha certeza da quantidade de pessoas sem sal, daquelas salgadas demais e as causadoras de diabetes crônica... Não se misturava a este tempero insosso e seriamente encarava as atrocidades dos destemperos, mas não queria voltar no tempo nem continuar na infantilidade do hipotéticos adultos.


Foi pulando suas barreiras como se fosse uma estadunidense campeã olímpica de corrida com obstáculos, quando se deparou com as lembranças de um strike humano no momento do atravessar de uma grama a outra tinha um skatista atento no meio. Este a via e saiu rolando, mas pegou toda as duas famílias e no fim das quedas estava Vintage. Ela caiu no córrego assustando patos e capivaras. Riu muito e nadou. A Vintage atual se encontrou neste momento marcante e guardou sua criança risonha para voltar a sorrir e achando graça de si e rindo do mundo. Sua crise de riso durou até o abdômen doer tanto quanto a boca.

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