Mal começava a manhã
e era um falatório sem fim. A vida dos outros em pauta e ela vivia em um
ambiente no qual ninguém queria saber deste assunto, mas Sátira nem desconfiava
e falava e falava e falava... Porém, ela se sentia superior quando alguém de
outra repartição vinha falar de outros e prontamente dizia não querer saber do
particular de nenhum ser.
As pessoas franziam a
testa, estreitavam os olhos, passavam a língua nos lábios e mordiam a boca sem
mostrar os dentes. Também olhavam para os lados, discretamente, procurando uma boa
desculpa para encerrar seja lá o que houvessem começado. Aquela falta de
pontuação de Sátira, emendando um assunto no outro, uma vida na outra dava a
desesperadora impressão de estarmos em um coletivo em dia de concurso no
horário de pico em pleno alerta de bomba, sem ter para onde ir ou como.
Era uma negação fatal
e mesmo assim Sátira sorria caminhando ruidosamente pelos corredores enquanto
as pessoas tentavam evitá-la. Quando ela andava com tiques de passos acelerados
buscando alguém para conversar o resto do mundo parecia selvagem. Um bando de
animais selvagens que tiveram experiências ruins com os seres humanos escutando
Sátira pisar agressivamente em montes de folhas secas. Todos fugiam.
Sátira... Sátira
maldizia sobre aqueles dos quais não gostava, inventava histórias aterradoras,
como aquela vez... Bom, não faz bem fofocar... Deixa para lá. Chegou a ser
presa por calúnia, injúria e difamação, mas o pior mesmo foi ficar isolada
fingindo não entender porquê. Alguns diziam que Sátira... Bem a chamavam de
cadela e pelo visto ela iria latir até não poder mais.
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