Estar ali
enfrentando o sol de frente sem se preocupar em queimar a retina era libertador.
Não só por causa dos óculos escuros, as lágrimas eram incontroláveis e aquele
misto de choro e riso, às vezes terminava em tosse. A natureza parecia, como
ele, esperar pela primeira vez aquele momento arrebatador onde qualquer traço
da noite desaparecia deixando as sombras necessárias levava também os erros, o
dia anterior ruim e principalmente os maus pensamentos. Toda a escuridão
partia.
Por isso, o choro
escorria... O riso se abria... não que Valente fosse igual, ele era diferente,
mas todos não eram? Pelo menos enquanto se davam uma importância tamanha e uma
sabedoria inalcançável até para Sócrates (é sempre preciso lembrar ser este o
filósofo não o jogador), assim todos eram iguais... Na adaptação de humor, na
forma de tratar a lei, na interpretação à vontade do próprio contexto, na escuridão
insistente nos cantos da boca, na remela permanente dos olhos.
Precisavam saber
dos humores alterados do mundo esperando pela primeira vez todos os dias o
amanhecer, com a mesma expectativa, as famílias juntando todas as raças na mesma
genética como uma resposta do cosmos aos traços aparentemente diferentes, mas
na essência e no sangue com a mesma gravidade dos planetas orbitando ao redor
do sol para permitir a sobrevivência da vida. Valente sentia renascimentos nos
alvos raios desde a alvorada como se o próprio vigor da primeira respiração o
soprasse.
Parecia um começo, mas
podia ser o fim definitivo ou apenas mais um fim. Só restava buscar um sorriso
e admirar um quase último crepúsculo, Valente queria refletir aquele nascente
para a humanidade se possível. Acordaria todas os dias antes do próprio dia e
se limparia da noite, iluminaria cada escuridão até se sentir a própria luz
concentrado e disperso, tão veloz quanto 300 mil quilômetros por segundo e se
deixaria também um vácuo... Mas por enquanto iria se esclarecer e apreciar a bela
redundância do princípio da aurora.
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