Estava tudo seco ao
redor daquela umidade. Nela havia verde e pássaros, além de um branco botão
brandindo ao fim do dia. Era uma flor simples, mas dentro dela havia algo mais
alvo ainda, vistoso como uma beleza única pulsante, na verdade uma orquídea repousava
ali prestes a desabrochar para ser a principal paisagem pura daquele lugar
invasor. Sálvio observava todos negarem o fato.
Não só por negarem a
si mesmo, naquele contexto esta autoanulação era o menor dos problemas, aquele
ambiente invadido silenciosamente continuava diminuindo sem sequer uma
contestação. Todos brincavam de cegueira, lentidão e até ausência de raciocínio,
como uma espécie de incompreensão crônica se alastrando pelo ar, se fazendo de
doença degenerativa.
Sálvio vivia ali sem
ser notado. Esperto para qualquer movimento, ele se escondia e se mantinha fora
do alcance de todos. Sabia que o chamavam de O Vulto ou Fantasma da Mata. Havia
uma lenda sobre ele e como havia morrido... Pelo menos, da última vez que conferiu
estava bem vivo, vivia, aliás, dos restos de comidas dos restaurantes. Estes desperdiçavam
uma barbaridade de manhã, de tarde e de noite.
Sálvio desistira da
convivência com tantos hipócritas e lutava para manter suas convicções
intactas. Sentia-se tão livre vivendo como observador e totalmente seguro no
suposto lugar selvagem cheio de quatis, capivaras e todo tipo de pássaro. Ele era
um deles. Nunca mais seria doméstico e hipócrita naquela reserva mais
civilizada que qualquer lugar que já esteve. Mas, tinha certeza que estava em
extinção como todo aquele ar livre. Como ali, ele seria sitiado
clandestinamente e daria lugar a outra coisa... Sem ninguém perceber nem
contestar.
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