por Rafael Belo
Eu dei um grito. Simplesmente na maior
naturalidade e parecia sem fim. Gente desconhecida chegou até mim e
imediatamente percebi a mudança. Sempre evitei dizer qualquer coisa. Não queria
conflitos nem nada. Apenas me afastava e achava ser assim mesmo. Mas, depois da
dor, do grito e das minhas palavras: senti-me leve. Tão leve a ponto de fazer
algo difícil: sorrir. Aprendi a sorrir de verdade. Antes era só um entortar
enviesado dos lábios um pouco irônico um tanto de “acaba logo”, um monte de “tudo
bem”, mas sem mostrar os dentes, sem destravar realmente. Não sei ainda o
motivo da dor. Um inseto ou aracnídeo talvez? Uma cobra provavelmente...
Sei da dor e da mudança iniciada de baixo
porque foi de lá a picada/mordida. Minha bota está pendurada como lembrança na
parede de entrada da minha casa. Foi minha experiência quase morte. Não voltei
deixando vestígios do outro lado nem nada disso. Não despertei tanto meu espírito
assim e continuo achando ser carne e pele com cada sensação nela. Sou teimosa. Sei
o seguinte: seja animal, inseto ou aracnídeo o veneno foi o suficiente para me
matar. Aquela antiga eu ficou ali apodrecendo até virar ossos. Eu já vinha
sentindo meu cheiro de putrefação, mas como saberia estar morrendo? Eu era o
real clichê morrendo por dentro.
Não vou dizer as palavras rudes e até os
palavrões, mas não me arrependo. Percebi pelo olhar chocado das pessoas
tentando me ajudar e eu rechaçando começando com “não me toque” e chegando ao
sexismo de coisas não ditas. Aí me
diziam você é mulher e blábláblá e eu
tipo Po...! Fo..-..! Só me deixem com minha dor. Se ela não passar eu passo com
ela. Não meço palavras mais. É simples: ou digo ou não digo. Mas, jamais deixo
mais quaisquer coisas abertas para diversas interpretações. Sou clara como meu
nome e mais porque sou Claraluz tudo junto mesmo.
Sabe, eu fiquei inchada, delirando e mesmo
desta forma sai cambaleando pelo luar daquele desterro. Como fui desaforada
ninguém veio atrás de mim. Quando cai não sei quanto tempo fiquei ali, mas pelo
menos um dia foi. Ainda bem... Não foi em lugar aberto porque era bem possível
eu estar com câncer agora. É! Isso não foi nada inteligente, mas gente!! Me
entendam!! Não foi a picada, a quase morte responsável por eu adquirir
sinceridade... Foi eu ter ganhado um tempo para pensar. Bom... Eu... Eu
confesso! Como muitos eu pulava de um “amor” para um desamor e ocupava meu
tempo só para não ficar comigo mesma. Mas a libertação da sinceridade cria
relacionamentos de verdades e como é bom saber ser leve e completamente eu. Bendita
picada!
Nenhum comentário:
Postar um comentário