por
Rafael Belo
Não
sei qual o problema da sinceridade, mas ela realmente está em falta e quando
comparece vem distorcida. Há um medo de dizer o sentimento, o pensamento e são
lamentáveis as abordagens, principalmente, às mulheres, mas enfim... O rodear,
a falta de conversa, o vazio absoluto criam obstáculos e um padrão totalmente
desconfortável e descrente nas pessoas quando se trata de relacionamentos. Aliás,
todos precisamos de tratamento. Vivemos resquícios psicológicos de relações
mortas e enterradas... Bem, desenterradas... Basta olhar os olhos de mágoas em
um choro interno e com uma dor necessitada de espaço para se dissipar, mas no
fundo só ganha mais aperto em outras dores para colecionar.
Também
colecionamos contatos e pessoas durante uma semana, um mês, um ano e... Não há
oportunidade de saber quem são de fato antes de as descartarmos sumariamente. A
velocidade não serve para nada a não ser para precipitações. Ah, como somos
precipitados. Somos ótimos em um julgamento recheado de nossa raiva... Dois
problemas em um. Julgar com qual base? Não temos esta competência perante um
erro, um deslize e mesmo diante de um ato arquitetado porque não cabe a nós. Já
toda raiva é gratuita porque só serve para nos envenenar. Hoje somos o veneno
do mundo acelerando nosso processo de morte. Criamos uma ansiedade crônica
responsável por dores de cabeça inexplicáveis, gastrites intermináveis e
depressões desdenhadas misturando tanta coisa capaz de deixar todo ar
respirável poluído. Onde está a clareza e a objetividade?
Objetivos?
Só posso rir quando vejo tantos disfarces nomeados como objetivos... Muito
menos somos claros. Não estamos nem perto de sermos claros... Somos difusos,
confusos, irregulares porque pedra pode ser papel no mesmo significado falado e
vamos criando paralelos, paradoxos e linhas temporais alternativas responsáveis
por tanta solidão. Contradizemos gestos, falas, certezas e expressão corporal e
os sinais universais ficam ali precisando de legenda. Tudo pode ser mal
interpretado porque falta boa vontade... “Está certo”. Levamos tanto na cabeça,
perdemos muitos dentes no chão e embrutecemos. Temos de nos preservar, claro. Mas,
até quando vamos deixar de fazer algo, de viver coisas grandiosas, de reforçar
apenas o negativo de relacionamentos e situações vividas, de nos dar
oportunidades novas para nos preservar?
Não
estamos à beira da extinção nem para nos preservar. Estamos levando à extinção
tantas outras coisas, espécies e sentimentos por nos preservar. Chega de recolhermos
nossa capacidade de arriscar, de acreditar e acabar nos desacreditando. Começamos
a avançar e permitimos o festival de interrogações pipocar na tela da mente como
mensagens de bom dia no whatsapp do
grupo da família só mudando para a pergunta “será?”. Podemos questionar à vontade,
mas em voz alta, por favor, e para quem quer que seja porque somos sim medrosos,
covardes e idealistas. Assim, ficamos insistindo em criar ideais de pessoas, relacionamentos
e nem sequer chegamos a conhecê-las e torná-los plenos. Relacionamo-nos com nós
mesmos em espelhos distorcidos iguais à sala dos espelhos dos circos. Estamos perdendo
de saber o quanto somos incríveis e, sim, há pessoas incríveis por aí.
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