segunda-feira, junho 05, 2017

estamos perdendo



por Rafael Belo

Não sei qual o problema da sinceridade, mas ela realmente está em falta e quando comparece vem distorcida. Há um medo de dizer o sentimento, o pensamento e são lamentáveis as abordagens, principalmente, às mulheres, mas enfim... O rodear, a falta de conversa, o vazio absoluto criam obstáculos e um padrão totalmente desconfortável e descrente nas pessoas quando se trata de relacionamentos. Aliás, todos precisamos de tratamento. Vivemos resquícios psicológicos de relações mortas e enterradas... Bem, desenterradas... Basta olhar os olhos de mágoas em um choro interno e com uma dor necessitada de espaço para se dissipar, mas no fundo só ganha mais aperto em outras dores para colecionar.

Também colecionamos contatos e pessoas durante uma semana, um mês, um ano e... Não há oportunidade de saber quem são de fato antes de as descartarmos sumariamente. A velocidade não serve para nada a não ser para precipitações. Ah, como somos precipitados. Somos ótimos em um julgamento recheado de nossa raiva... Dois problemas em um. Julgar com qual base? Não temos esta competência perante um erro, um deslize e mesmo diante de um ato arquitetado porque não cabe a nós. Já toda raiva é gratuita porque só serve para nos envenenar. Hoje somos o veneno do mundo acelerando nosso processo de morte. Criamos uma ansiedade crônica responsável por dores de cabeça inexplicáveis, gastrites intermináveis e depressões desdenhadas misturando tanta coisa capaz de deixar todo ar respirável poluído. Onde está a clareza e a objetividade?

Objetivos? Só posso rir quando vejo tantos disfarces nomeados como objetivos... Muito menos somos claros. Não estamos nem perto de sermos claros... Somos difusos, confusos, irregulares porque pedra pode ser papel no mesmo significado falado e vamos criando paralelos, paradoxos e linhas temporais alternativas responsáveis por tanta solidão. Contradizemos gestos, falas, certezas e expressão corporal e os sinais universais ficam ali precisando de legenda. Tudo pode ser mal interpretado porque falta boa vontade... “Está certo”. Levamos tanto na cabeça, perdemos muitos dentes no chão e embrutecemos. Temos de nos preservar, claro. Mas, até quando vamos deixar de fazer algo, de viver coisas grandiosas, de reforçar apenas o negativo de relacionamentos e situações vividas, de nos dar oportunidades novas para nos preservar?


Não estamos à beira da extinção nem para nos preservar. Estamos levando à extinção tantas outras coisas, espécies e sentimentos por nos preservar. Chega de recolhermos nossa capacidade de arriscar, de acreditar e acabar nos desacreditando. Começamos a avançar e permitimos o festival de interrogações pipocar na tela da mente como mensagens de bom dia no whatsapp do grupo da família só mudando para a pergunta “será?”. Podemos questionar à vontade, mas em voz alta, por favor, e para quem quer que seja porque somos sim medrosos, covardes e idealistas. Assim, ficamos insistindo em criar ideais de pessoas, relacionamentos e nem sequer chegamos a conhecê-las e torná-los plenos. Relacionamo-nos com nós mesmos em espelhos distorcidos iguais à sala dos espelhos dos circos. Estamos perdendo de saber o quanto somos incríveis e, sim, há pessoas incríveis por aí. 

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