por Rafael Belo
Doutrinados ao
combate, ao enfrentamento, a disputa de espaço, a vencer o outro, a elevar uma
crença em detrimento de outra a morte se espalha, o caos impera e tudo se
repete como em outra era. A racionalização, ou o iluminismo grego, tinha mais
camadas entre seus mitos e crenças bem além do registrado na história. O místico,
o astrológico, o ilógico, o espiritual e o imaterial se misturavam no
cotidiano. Havia - como hoje - perseguições político-religiosas terminando com toda
uma população bebendo cicuta voluntariamente.
Por vontade
própria bebemos outros venenos. Atropelamos, emboscamos, atiramos...
Armamos-nos de todas as armas erradas. Procuramos um sentido para tudo, mas não
tem sentido esta cegueira toda ao nosso redor e em nós. Estamos nos
desmembrando paladinos da justiça, justiceiros da verdade, heróis de tantas
desimportâncias acumulando pó e pesos nos curvando para o chão em uma
reverência constante ao vazio. Vivemos de causas perdidas. Queremos resgatar o
outro antes de nós mesmos. Queremos revidar a violência com violência criando
um ciclo de justificativas e ódios sem fim. Para, enfim, continuar com dor em
noites sem dormir e se alimentar sem sabor.
Perdemos tempo
e vidas querendo corrigir o incorrigível. O passado é imutável. Acabou. Não deveríamos
descobrir nosso papel no mundo? Descobrir como mudar algo, e nós mesmos, ao
invés de tentar forçar situações, relações e mudanças de opinião? Não há
respeito. Há apenas a vontade de não querer causar um rebuliço público ou,
melhor escrevendo, uma exposição desastrosa nas mídias digitais. A intolerância
se esconde por toda parte. Talvez por isto as conversas francas tenham bebido
cicuta há tanto tempo... Esta pode ser a causa de tanta esquizofrenia
comportamental desta multidão confusa difusa nas vontades instantâneas: só é possível
realizar uma vez. Depois reina a paranoia.
Precisamos evoluir
nosso espírito infinitamente maior. Nosso corpo não é nada além de um caiaque furado
nas correntes, correntezas e cachoeiras da vida. As ideias gregas tão cultuadas
desde o pré-socrático Anaxágoras de Clazômenas – meio milênio antes de Cristo –
possuem tanto contexto de causas e consequências a ponto de ser impossível
endossar qualquer tipo de violência vinculadas a religião ou filosofia,
principalmente, o revide como solução. Ao invés de revidar e plagiar, o aprender
precisa vir primeiro junto a capacidade de prever as consequências dos nossos
atos para não continuarmos etiquetados como causas perdidas.
2 comentários:
"Nosso corpo não é nada além de um caiaque furado nas correntes, correntezas e cachoeiras da vida."
Perfeito!
Obrigado Vi! <3
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