quarta-feira, junho 21, 2017

Inverno interno



por Rafael Belo

A única coisa além de comida no meu estômago é afetação. Sabe, às vezes, vem um golpe levando meu ar, meus pensamentos, meu raciocínio... Quando algo me afeta de tal maneira a ponto da negação piorar. Quando me dizem não ser capaz, quando me subestimam... Eu, logo eu, aquela mais zen, aquela ligando para nada... Sou um ser humano é a pior desculpa e eu a estou usando. Revidando a cada buzina, avançando a cada avanço, fechando a cada fechada... É entrei para a terra dos cegos e banguelas, velozes e furiosos das horas do rush...

Alívio imediato, mas fake. Coração acelerado, estômago pesado, mas há uma satisfação de ver o medo, o susto, a cara de arrependimento e até de bobos destes motoristas medíocres. Mas, não! Não posso alimentar esta raiva, esta violência diária gerando stress, insatisfação e infelicidade como quem distribui entrada vip com open food and drinks. Adianta? Por quanto tempo vou me sentir bem? Ser racional o tempo todo também acaba com o emocional na mesma proporção na qual ser emocional integralmente acaba como racional...

Preciso estacionar... Hoje nem dá para ver o céu. Está tudo branco e o sol é só um borrão mais claro em um canto. Neblina, névoa... Qual delas? Não enxergo nada hoje e eu me separei de mim... Estou aí neste branco indefinido. Este fenômeno fumaça branca de inverno veio para esconder o meu revide ou tudo será apagado para uma nova tentativa? Já reiniciamos tantas vezes este ano... Deixe-me descansar um pouco, ok? Pode ser? Mas... Só um... É! Eu sei! Pode piorar se eu não fizer nada... Ainda mais sabendo meu papel de despertar, de curar um a um...


Está frio e uma frieza mórbida gela o silêncio de olhos vidrados e tiques cortando a pele com um banho forçado na água abaixo de zero. Está tudo negativo nas temperaturas. Abaixo das indicações do tempo. Mas frio mesmo são os atos das pessoas em suas atitudes desnecessárias invocando invernos glaciais árticos lembrando: o esquecimento substituiu o aquecimento... Você lembra como era em outras vidas? Não recorda como já foi? Passou tanto tempo assim?... Há corações frios me afetando e este clima de Velho Mundo lá fora misturado ao Continente Branco, Antártida... Deixa visível minha respiração de dor e, ainda assim, não se compara às temperaturas negativas por aí nem se ampara em satisfação à coisa alguma. Estou acabada, congelada em um momento inútil e aquela Clare Solarium, conhecida como eu mesma, vai representar na hora da palestra motivacional com o aviso prévio: não posso errar mais.

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