segunda-feira, junho 12, 2017

primeiramente a própria presença



por Rafael Belo

Há tantas expectativas nos olhos procurando serem olhados por aí, vivendo uma necessidade de querer serem queridos tão intensamente a chegar a doer. Cultivam uma solidão, uma sombra pesada totalmente oposta a vontade acumulada, criam uma dependência do outro e um desespero exala do olhar. Há um vazio despedaçado já na superficialidade da vista fabricado pelo descontrole imposto na vida pessoal pela forma da criação de cada pessoa nunca direcionada a saber quem é, a conviver consigo mesma e só capacitada a conquistar espaços, relacionamentos, profissões, concursos e o mundo.

Não há culpa ainda mais diante das desculpas da voracidade estética do padrão social. Mas, quem está só e é constantemente devorado se perde nesta antropofagia onde há só o bestial canibalismo usando o corpo e se alimentando da alma do outro acabando por encontrar uma culpa inexistente. Então, se vai esvair em uma busca incessante de um corpo e, talvez, uma mente para preencher este vazio só possível de encher consigo mesmo. Ao invés de primeiramente a própria presença e um transbordar de si, um ideal do outro, uma miríade de expectativas, uma resposta a cobrança eterna dos amigos, família, da sociedade de ter outro alguém.

É Dia dos Namorados e disfarçadamente as brincadeiras sérias surgem de toda parte nos dias antecipados da data. “Estáveis” em seus relacionamentos reafirmam suas “posses” e “instáveis” no modo solteiro confirmam a “delícia” de não ser um casal.  Da boca para fora cada um defende seu corner e lançam a visão ao redor para não se entregarem neste mundo de pressa e instantaneidade.  É aqui onde habita a efemeridade das relações às vezes se perpetuando nos namoros seguros pelo medo da solidão sem o outro e vive-se uma solidão ecoando a solidão da parceira/o. Do lado de cá há badalação de toda parte, flertes, ficadas, rolês com a única intenção de diversão e a mesma solidão. Não somos multidões sós, somos solidões em multidões.


E nas aceitações pregadas e desaceitações viralizadas fica óbvio a necessidade em algum momento de estar com alguém. O ser humano não foi feito para ficar só. Somos tantas ideias e sentimentos necessários - não de aceitação - mas de expor aqueles para de fato existirem... Precisamos nos compartilhar, mas a partir do momento no qual sabemos quem estamos compartilhando, pois até a tal da beleza gera inseguranças de ambas as partes da mesma maneira onde a quantidade de qualidades provoca desconfiança. Aprenda a conquistar a si mesmo diariamente, não julgar e se divertir ao sair sem precisar procurar ninguém porque tudo fica mais leve e suas vontades podem chegar até você.

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