por Rafael
Belo
Lá estava
ela naqueles movimentos repetitivos sentindo um vazio dolorido a mastigando
enquanto ela mesma mastiga uma bola de metal cravada de pregos enferrujados. Chuva
ao invés de sentir prazer, chora. Seus olhos contém uma noite sem estrelas e na
indiferença do seu parceiro tudo parece estar no mudo. Depois de satisfeito ele
vai embora e ela finge dormir. Ela escuta ele procurar as roupas tentando não
fazer barulho, o ouve se vestir, procurar as chaves da casa dela e ir embora
como se nem tivesse ali estado.
Toda borrada,
abandonada na própria casa e soluçando como se estivesse à beira da morte
dentro de um abismo de escuridão a apagando, qualquer atenção já ganhava Chuva.
Seu sentimento é um constante desaterro, um absoluto desamparo pressionando o
peito de dentro para fora e de fora para dentro com uma mão de ferro esmagando
o coração e o próprio mundo sentado nos pulmões. Onde está o ar?, pensava Chuva enquanto ia ficando roxa. Já tinham
passado dois dias dos namorados e um perder de contas do tempo de solidão de Chuva.
Ela observava
com sofrimentos diversas solidões de mãos dadas nas multidões e só podia
imaginar cada uma ser um dos pedaços estilhaçados do espelho refletindo apenas o
lugar onde estão. Mas, olhando para si mesma via: seus pensamentos não
compartilhavam os sentimentos. Não estavam estragados na dependência do outro,
então não realizavam aquelas dores do físico, não aceitavam ser deles nem se
reconheciam mais. Era uma desconexão tão consciente e ela já ia abandonar
aquelas dores quando começou a falar sobre elas ao mesmo tempo indo parando de chorar.
Chuva aumentou
de tamanho de repente como uma Deusa lembrando não ser apenas humana. Ela sentou
e começou a rir e cada risada aumentava. Quem passava na rua ria também e seus
vizinhos já gargalhavam, mas bela como era ninguém imaginava sofrer. Nunca esteve
só, porém sempre foi sozinha. Contagiando risadas só despertava nos outros a
falsa ideia dela ter tudo e poder ter tudo porque bela era. No entanto, se
sentia a amaldiçoada Fera. Qual o
propósito?¸ se questionava se procurando no espelho. O celular tocou e
Chuva atendeu sem olhar quem era. Ria e quando ouviu a voz reconhecida voltou a
chorar. Minutos depois vários amigos chegavam a contragosto dela. Era uma
intervenção.
3 comentários:
.....porém sempre foi sozinha!
"Nunca esteve só, porém sempre foi sozinha." Que soco na boca do estômago.
precisamos apanhar, às vezes >D
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