Por Rafael
Belo
O nome dela
é Girassol. Simples assim. Sem nome sem sobrenome sem gênero. Nasceu mulher. Luta
como mulher e não há melhor forma de lutar. Chegou naquela rotatória morta e
sentou no meio. Ela é um relógio sem tempo.
Quase não fala. Quase não se embriaga a não ser de silêncios e nadas. Quase não
se empanturra a não ser de música, histórias e memórias... Mas quando erra – e isso
vem acontecendo com frequência demais – ela se perde. Precisa se afastar para
voltar a se encontrar. Ela tem aquele orgulho bobo de todos nós. Pede para o
diabo a carregar, pede o chapéu de burro banido fisicamente das escolas e
transformado em outros bullyings para procurar seu canto representativo.
Hoje é esta
rotatória. Há uma dúzia de ruas
ramificando no dobro disso e a cada vez que se olha e parece o fim os
desdobramentos multiplicam por dois este número ou o número final de tudo isso.
Girassol respira fundo. Procura o sol pelo horizonte. Esta quase na hora. Ela é
a hora. Ela diz ao tempo seus afazeres. Por isso, as ruas não terminam. Elas são
solares. Milhares dela caminham diante dos seus próprios olhos. Girassol fecha
os olhos para procurar respirar mais fundo enchendo os pulmões deste momento
sem deixar de se enxergar como de olhos abertos.
A alvorada
começa a aquecer o horizonte e chega o primeiro raio a fronte de Girassol. A própria
Alva a veste enquanto ele se embevece. O alinhamento é litúrgico no início e no
fim sem nunca terminar. Ela queima como se fosse a própria chama original acesa
pela primeira vez. Girassol endireita as costas, larga os ombros, cruza as
pernas deixando os joelhos opostos e um triangulo invertido no espaço vazio. Como
um megafone e a convergência de tudo nela. Os acontecimentos não se sobrepõem. São
paralelos. Uma consequência de fatos estartados já dentro da intenção do
pensamento dela.
Assim foram
os erros dela. Consequências da intenção, do julgamento... Onde estava o
sentimento? Sol, lua, estrelas e nuvens estavam a esperando. De onde estava a
vida amanhecia e anoitecia ao mesmo tempo. Girassol começou a rir... Era só
mais um erro. O único motivo de haver acertos eram os erros. Ela sabia de seu
retorno em breve para aquele ponto dela em particular. É inevitável errar e se olhar bem quem taxa como erro cobra imposto
abusivo de nada porque tachar-se é o verdadeiro erro. Este apontar defeitos em
si e nos outros... Há humanidade desumana! Ah, desumana humanidade! Rá! Como
sou insana. Prometo tomar um caminho diferente a cada erro novo e comer este
tempo para alimentar minhas horas. Mas, permaneceu ali desmembrando a nossa
noção de tempo e a dela também.
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